Então é Natal

Por Rodrigo Trespach

O Natal é celebrado de maneiras diferentes em vários países e está associado como cada povo recebeu e adaptou para sua cultura a festividade e seus atores principais. O dia de Natal, o nascimento de Jesus Cristo, é comemorado como festa religiosa cristã desde o séc. IV pela Igreja Católica. E a forma como é conhecido hoje é o resultado da fusão de várias culturas ao longo dos últimos séculos. A celebração foi oficialmente instituída pelo Papa Júlio I, mas com poucas bases históricas sólidas para afirmar que 25 de dezembro fosse mesmo o dia do nascimento de Cristo. Muito antes do aparecimento de Cristo, vários povos celebravam de forma muito especial uma data de significativa importância para todos: o solstício de inverno (no hemisfério norte).

Para os celtas, povo pagão que habitava inicialmente o que hoje é a Europa Central, o solstício do inverno, era um momento extremamente importante em suas vidas, celebrado com grandes banquetes. Os romanos comemoravam em dezembro a Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno – o deus da agricultura que permitia o descanso da terra durante o inverno. As festividades ocorriam entre os dias 17 e 22. No dia 25 era comemorado o solstício de inverno. O solstício de inverno, o menor dia do ano, simbolizava o início da vitória da luz sobre a escuridão, por isso estava associado ao nascimento do deus Mitra, o Dies Natalis Solis Invicti (o dia do nascimento do Sol invencível). O culto a Mitra, com origem na antiga Pérsia, hoje Irã, havia chegado a Roma trazido por soldados do império em expansão.

Com a conversão do Império Romano ao cristianismo, a veneração ao Sol, foi substituída pela veneração a Cristo, em uma clara alusão a “luz do mundo”, do evangelista João (confira João 8:12). A Igreja faria o mesmo com várias outras festas e deidades, transformando a simbologia e os templos pagãos em novas mensagens para cristianismo emergente.

O calendário gregoriano, que utilizamos hoje, é utilizado somente a partir do século XVI, quando o Papa Gregório XIII decretou a modificação do calendário vigente na época, o Juliano, para que ocorressem alguns acertos. Assim, 11 dias foram retirados do calendário para que ele fosse ajustado. Ocorre que essa alteração modificou também o dia do solstício de inverno, que ocorre hoje entre o dia 21 e 22 de dezembro. No entanto nessa época já estava consolidado o dia 25 de dezembro como o dia do nascimento de Cristo. O Sol Invictus ficara relegado ao passado.

Sobre o ano de nascimento a questão é ainda mais complicada. Cristo não nasceu no ano zero e sim, segundo estudos mais precisos, nos anos 7 ou 6 antes da contagem regular. Isso ocorreu porque os cálculos feitos pelo monge Dionísio, o Exíguo (séc.V), para datar o nascimento de Jesus, estão incorretos em até oito anos. Ou seja, o monge literalmente dormiu no ponto. Tudo isso, dia e ano de nascimento, refere-se à tradição católica e depois da Reforma no século XVI, protestante. Mas há ainda a tradição da Igreja Ortodoxa, maioria, por exemplo, na Grécia e Rússia, que comemora o Natal no dia 6 de janeiro…

O termo Natal também é diferente em vários países. Natal vem do latim natalis, derivado de nascéris, natus sum ou ainda nasci, cujo significado, bem claro para os povos de língua latina, é nascer ou nascimento. E é semelhante ao Natale, em italiano, e o Navidad, em espanhol. Mas outros países, os de origem germânica, usam termos diferentes. Para o alemão Natal é Weihnachten, para o francês Noël e para o inglês Christmas, cada um com um significado especial apropriado ao costume local.

Ao Pinheiro de Natal, que os alemães chamam de Tannenbaum ou Weihnachtsbaum, atribui-se a Martin Luther, o Reformador, a sua “invenção”. Mas sabe-se que os povos germânicos têm desde a antiguidade uma ligação com o pinheiro, tanto que as versões mais antigas da tradicional canção são anteriores a Reforma.

Weihnachtskarte Weihnachtsmann 1903

O Papai Noel é chamado na Alemanha de St. Nikolaus ou Weihnachtsmann, literalmente o homem do Natal. Na França de Père Noel. Noel vem de “lês bonnes nouelle”, ou seja, as boas novas. O uso do “papai” está associado à expressão inglesa “Father Christmas”, ou pai Christmas. Novamente cada país adaptou o nome a sua cultura. Assim, Papai Noel é chamado na Itália de Babbo Natale, na Suécia de Jultomte e na Rússia de Ded Moroz. De uma maneira ou de outra a popularização ocorreu devido a St. Nikolaus, o São Nicolau, bispo católico, na Turquia do século IV, canonizado em 800. Homem rico e caridoso, conhecido pela sua dedicação às crianças.

Não há relatos anteriores ao século XIX de que houvesse algum tipo de comemoração natalina onde um velhinho de barba branca e vestido de vermelho entregasse presentes às crianças. Na Alemanha a tradição atribuía a Christkind, o menino Jesus, a entrega de presentes. O Papai Noel moderno surgiu nos Estados Unidos. Em 1822 Clemente Clark Moore, um professor de literatura em Nova York, escreveu o poema “Uma visita de São Nicolau”, onde descrevia as viagens de trenó e descidas pela chaminé. O poema foi um sucesso e rapidamente popularizou o personagem que recebeu a aparência atual em 1886, através do cartunista Thomas Nast, da revista Harper’s Weeklys, em edição especial de Natal. A Coca-Cola, em campanha publicitária na década de 1930, popularizou o uso das cores hoje tradicionais.

Um Feliz Natal e próspero ano novo para todos!

Artigo também publicado no Jornal Momento, Osório/RS, 19.12.2012.

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!