Eles não eram alemães…(parte 2)

Os primeiros colonos imigrantes não eram alemães e chegaram a São Leopoldo antes de 25 de julho de 1824. Essa foi a afirmação do nosso post do dia 24, Eles não eram alemães…

Hoje vamos explicar porquê, então, se comemora o dia 25 de julho como o dia da chegada dos pioneiros se essa data está errada?

O 25 de julho foi estabelecido como data magna da Imigração Alemã no Brasil, denominando, inclusive, inúmeras associações culturais voltadas às tradições germânicas, no ano do centenário da chegada dos primeiros colonos em São Leopoldo, em 1924. Nesta data muitos documentos referente aos primeiros anos do estabelecimento da colônia ainda não estavam disponíveis aos pesquisadores ou não haviam sido encontrados, perdidos em arquivos públicos. Havia mesmo, pela precariedade de fontes, dados confusos e pouco esclarecedores. E alguns documentos importantes apontavam para essa data.

C333 Caspar Dressbach 1829

O próprio o C-333, o manuscrito organizado por J. Daniel Hillebrand à época da imigração, guardado hoje no Arquivo Histórico de Porto Alegre, e principal base de dados dos colonos chegados ao Rio Grande do Sul entre 1824 e 1853, cometeu o erro histórico de informar que a primeira leva chegou no dia 25 de julho.

Erro justificável, já que Hillebrand chegou a São Leopoldo somente quatro meses depois, em novembro, e anotou as informações segundo dados dos próprios colonos, aparentemente sem consultar outras fontes, como o governo da província, mais de vinte anos depois da chegada dos pioneiros

Em carta assinada em 23 de julho de 1824, o então presidente da província, José Fernandes Pinheiro (1774-1847), depois Visconde de São Leopoldo, informou o ministro de Negócios Estrangeiros, no Rio de Janeiro, que os primeiros colonos já haviam deixado Porto Alegre naquela data com destino a Feitoria, local onde eles se estabeleceriam.

Uma explicação possível para o erro dos primeiros historiadores ocupados com a questão, já no século 20, pode ser a escrita da carta, não levada em conta em uma análise pouco cuidadosa. José Fernandes Pinheiro escreve que os colonos “partirão para a referida Fazenda do Canamo” no dia 23. Uma leitura rápida remete ao futuro, ou seja, dia 24 ou 25, mas no português da época (1824) “partirão” equivale a partiram, no passado.

Naquela época uma viagem de Porto Alegre até São Leopoldo, a cavalo, durava cerca de sete horas. Por mais que houvesse ocorrido algum atraso devido ao tempo ou ao transporte, realizado por lanchões, é muito provável então que os primeiros colonos tenham chegado a São Leopoldo antes do dia 25, se não no mesmo dia 23, no máximo até o dia 24.

Para Hillebrand não só a leva pioneira havia chegado em 25 de julho, como o número de pessoas na leva era de 45 e não 39, número que corresponde a verdade. Entre os pioneiros Hillebrand anotou, por exemplo, um casal de colonos açorianos, que não poderiam ser computados entre os colonos germânicos. Além disso, anotou quatro outras pessoas que comprovadamente não haviam chegado na primeira leva, mas na seguinte.

Esses números passaram despercebidos por décadas. O historiador gaúcho Carlos Henrique Hunsche foi um dos responsáveis, na década de 1970, quando do sesquicentenário da imigração, pelos esclarecimentos destes dados, de significativa importância histórica.

O fato é que a data de 25 de julho foi consagrada por lei estadual de 1924, o ano das comemorações do centenário da imigração. Por lei federal, de 1968, o dia 25 de julho foi oficializado como Dia do Colono, também em homenagem aqueles pioneiros. Em 2005 o Congresso Nacional instituiu o dia 25 de julho como o dia Dia Nacional da Etnia Teuto-Brasileira.

© Rodrigo Trespach – www.rodrigotrespach.com
Todos os Direitos Reservados. Lei Nº 9.610, de 19.02.1998.

Para ler o a primeira parte de Eles não eram alemães clique aqui.
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