Um país sem excelências e mordomias

A Suécia é mais do que o lar ancestral dos vikings, os famosos guerreiros que aterrorizavam a Europa Medieval e podem, até mesmo, terem chegado à América muito antes dos espanhóis; é também o lar de políticos sérios. No país escandinavo, os homens públicos não têm mordomias, não aumentam o próprio salário, não têm verba para publicidade, não têm gabinete próprio e alguns escalões, 94% das assembleias regionais, não recebem salários; um deputado recebe apenas 50% a mais do que um professor primário; muitos vão de bicicleta para o trabalho, alguns andam de transporte coletivo e ninguém tem motorista particular.

Tudo isso é surreal, mas verdadeiro. A Suécia é um exemplo de transparência a ser seguido, principiante pelo Brasil, onde “corrupção” e “político” são sinônimos.

Em Um país sem excelências e mordomias, Geração Editorial (2014), a jornalista brasileira Claudia Wallin, radicada na Suécia, entrevistou políticos, juízes, ativistas, jornalistas e cidadãos comuns, e traz para o Brasil informações sobre o sistema político desse país europeu que deixam qualquer o brasileiro surpreso e envergonhado.

Em uma das entrevistas, Wallin perguntou a vereadora sueca Christina Elffors-Sjödin: “O que a senhora acha do fato de trabalhar como vereadora desde 2006 sem receber salário?” Elffors-Sjödin respondeu “Acho bom, porque penso que não devemos ter vereadores pagos”. “Por que não?”, insiste a escritora brasileira. “Porque estamos aqui exercendo cidadania, em uma atividade que não exige dedicação em tempo integral, e, portanto, não devemos ser pagos por isso. Se pagássemos salários a vereadores, muitos estariam aqui não por causa de um comprometimento para mudar as coisas para melhor, e sim para ganhar dinheiro e fazer carreira”. Um conceito de política e desprendimento inexistente no Brasil.

A explicação e o sucesso sueco deve-se a três importantes fatores: transparência, educação e igualdade de direitos – na concepção mais completa do que representam esses conceitos. O poder público municipal é obrigado a investir 42% do orçamento em educação. E olha que o país é, oficialmente, uma monarquia parlamentarista. Mas até a realeza precisa andar na linha.

Os suecos têm verdadeira paranoia com transparência, existe até um órgão responsável pela fiscalização anticorrupção – O Instituto Antissuborno/ Institutet Mot Mutor. Nenhum funcionário público, por exemplo, pode aceitar convites para jantar de empresas privadas ou receber presentes de valor superior a 67 dólares (algo em torno de  R$ 145,00); para um promotor público o valor não pode ser superior a míseros 8 dólares (menos de R$ 20,00). O mesmo ocorre com a igualdade de direitos, nenhum parlamentar tem privilégio diante da justiça. Os próprios parlamentares cozinham sua comida, lavam sua roupa e mantém limpos os seus apartamentos. Não há privilégios!

Wallin apresenta outros dados estatísticos e histórias que podem servir de exemplo para países em desenvolvimento e ainda pouco transparentes como a antiga colônia portuguesa. Bem que Um país sem excelências e mordomias poderia virar um manual para políticos e eleitores brasileiros.

Por Rodrigo Trespach

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