Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré

A história de um agitador revolucionário. Polêmico, arrebatador, o melhor livro sobre o Jesus histórico desde Um Judeu Marginal.

Ainda que alguns livros sobre o tema tenham sido publicados durante a última década, poucos desde Um Judeu Marginal (1991), do padre John P. Meier, e das obras do polêmico J. Dominic Crossan, causaram tanto impacto na opinião pública quanto Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré, do historiador iraniano Reza Aslan, recentemente lançado no Brasil pela Zahar.

Reza Aslan nasceu no Irã, mas foi obrigado a fugir junto com a família para a América quando a Revolução Iraniana derrubou o xá Reza Pahlevi e instaurou no poder o aiatolá Khomeini. Aos 15 anos, já nos Estados Unidos, se converteu ao cristianismo depois de um encontro de jovens evangélicos no norte da Califórnia. Foi a primeira vez que ouviu a história de Jesus Cristo. O interesse pelo tema e a busca por conhecimento o levaram a um conflito que só iria aumentar na universidade: a distância entre Jesus Cristo (o personagem religioso) e Jesus de Nazaré (o personagem histórico).

O impacto causado por Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré se dá menos pela descoberta ou revelação de uma nova teoria sobre o Jesus histórico do que pela maneira como o historiador escreve ao público leigo. Não é à toa que o livro é o best-seller número 1 do New York Times. Especialista em temas religiosos, formado em Harvard e na Universidade da Califórnia, Aslan sintetizou de forma arrebatadora e original, os estudos e pesquisas de toda uma geração de especialistas.

Se as obras de Crossan e Meier – a quem tanto Aslan quanto quase todos os historiadores bíblicos modernos devem a definição e compreensão do Jesus Histórico – ainda que acessíveis ao grande público, eram direcionadas ou exigiam do leitor um olhar crítico, senso apurado e maior conhecimento histórico, Reza Aslan conseguiu sintetizar ideias e conceitos complexos, descrevendo de forma clara a diversidade social e o fervor religioso da Palestina do século I, a época em que Jesus viveu e morreu.

Sem preconceitos, ataques ou tentativa de impor dogmas de qualquer das religiões envolvidas, Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré é a visão da historiografia moderna sobre quem teria sido o homem responsável pelo surgimento de uma das maiores religiões da humanidade.

Em Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré, Aslan descreve um Jesus discípulo de João Batista, convicto da necessidade de mudança e da criação de uma nova sociedade. A propósito, o termo “zelota”, que dá nome ao título do livro, não corresponde ao partido radical dos zelotas, surgido mais de três décadas depois da morte de Jesus e que se oporia a ocupação romana até a derrota final, com a destruição de Jerusalém, mas a uma “Quarta Filosofia” do judaísmo; uma corrente alternativa às três existentes (a dos fariseus, dos saduceus e a dos essênios).

A filosofia do “zelo”, mais modelo de piedade e aspiração do que posicionamento político, pregava a adesão à Lei e à Torá, a crença e obediência ao Deus Único e a não-submissão de Israel ao jugo de qualquer povo estrangeiro.

Para  Aslan, “Jesus estava menos preocupado com o império pagão ocupando a Palestina do que com o impostor judeu ocupando o Templo judaico”. A classe sacerdotal, menos do que a dos fariseus, foi o principal alvo das críticas de Jesus; suas parábolas estavam cheias do sentimento anticlerical, típico da política e da fé da Galileia. Dentre os inúmeros exemplos de parábolas vistos sob esta ótica, a do Bom Samaritano: o samaritano, que nega a autoridade do Templo, cumpre o mandamento de Deus “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”; os sacerdotes, ao contrário, vinculados ao Templo, ignoram o mandamento por medo de profanar sua pureza ritual.

Jesus combateu a elite clerical do judaísmo, atingindo também o dominador romano com quem os sacerdotes, os ricos e poderosos da Palestina do século I haviam se aliado. Os ricos e poderosos fazem parte de outro foco de ataques, contidos nas parábolas de Jesus, que nada mais era do que um camponês galileu, como tantos outros, oprimido com os impostos cobrados por Roma através da elite da Judeia.

Por isso, o ataque de Jesus ao Templo de Jerusalém também foi encarado como um ataque a própria Roma. O título “Reis dos Judeus”, pregado junto a cruz, não deixa dúvidas: Jesus de Nazaré foi crucificado por sedição, como um agitador perigoso e revolucionário, tanto para os judeus quanto para os romanos. Um zelota.

Aslan aborda ainda as razões que levaram a Igreja cristã primitiva a preferir promover a imagem de Jesus como um mestre espiritual pacífico em vez do revolucionário político que ele teria sido. Zelota é a história de um agitador revolucionário. Polêmico, arrebatador, o melhor livro sobre o Jesus histórico desde Um Judeu Marginal.

Por Rodrigo Trespach

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