Sob o fantasma do Holocausto

SOB O FANTASMA DO HOLOCAUSTO

O nosso mais profundo desejo é obviamente que haja paz entre todos os povos, para que possamos estar livres do pesadelo da guerra. Esperamos poder voltar a viver como antes e que a lembrança do tempo atual seja apenas uma lembrança. Que o Senhor Todo-poderoso nos ajude!

O trecho da carta acima foi escrito por Selma Kaufmann, da Alemanha, à filha Marianne (Nanna), nos Estados Unidos, em 19 de setembro de 1939, pouco após o início da Segunda Guerra Mundial. É apenas uma, das centenas de cartas, fotografias, relatos e entrevistas que compõem o trabalho das historiadoras norte-americanas Rebecca Boehling e Uta Larkey, Sob o fantasma do Holocausto – A vida, a morte e a perda de identidade de uma família judaica na Alemanha de Hitler (Cultrix, 2013).

Boehling é professora de história e diretora do Centro de Ciências Humanas, da Universidade de Maryland, Baltimore. Larkey é professora adjunta de Estudos Alemães no Goucher College.

Enquanto a maiorias dos livros sobre memórias de sobreviventes do holocausto ou de judeus perseguidos na Alemanha nacional-socialista (1933-1945) é baseado, quase que exclusivamente, na memória dos envolvidos, Sob o fantasma do Holocausto apresenta não apenas o relato dos envolvidos, mas farta documentação correspondente, trocada entre duas gerações de membros de uma família (os Kaufmann-Steinberg) que conseguiram emigrar da Europa e os que permaneceram sob o jugo nazista.

Se em Reinhard Heydrich, O Carrasco de Hitler, também da Cultrix, é possível acompanhar o desenvolvimento sistemático de leis e do aparato usado pelos nazistas para a perseguição dos judeus, em Sob o fantasma do Holocausto é possível conhecer o lado dos perseguidos.

Com um trabalho criterioso, Boehling e Larkey reconstroem a história da família Kaufmann – cujo foco central é a vida das irmãs Selma e Henny, nascidas em 1871 e 1875 respectivamente – desde o começo do século 19, passando pela Alemanha Imperial e a República de Weimar até a ascensão de Hitler, as primeiras restrições e impedimentos impostos aos judeus, a perda dos direitos civis, da cidadania e a perda da liberdade, até o fim – no caso de Selma -, em Theresienstadt, hoje na República Tcheca, considerado o “gueto-modelo” por Hitler. 

Desde janeiro de  1933, quando Hitler assume a Chancelaria do Reich, leis antijudaicas vão gradativamente retirando dos os judeus, como os membros da família Kaufmann-Steinberg, a possibilidade de exercer uma profissão, como  a advocacia e a medicina, e de manter um comércio, como a loja “Geschwister Kaufmann”, de propriedade das irmãs Selma e Henny.

Em paralelo às dificuldades dos membros da família que permaneceram na Alemanha, a relação com os que deixaram a Europa pouco depois da ascensão nazista e se dirigiram para a Palestina, a Argentina e para os Estados Unidos; a vida longe, as aflições, as tentativas desesperadas de salvar os que estavam sob as garras da SS e da Gestapo antes que cerco se fechasse e a possibilidade de fuga se tornasse impossível.

O caso singular dos Kaufmann-Steinberg, além dos Bachrach, com duas mulheres liderando uma loja comercial no começo do século 20, quando o trabalho da mulher ainda era vinculado ao trabalho doméstico, e a grande quantidade de cartas trocadas e guardadas pelos familiares, possibilitou a Boehling e Larkey um material precioso para que Sob o fantasma do Holocausto se tornasse referência em pesquisas sobre a vida dos judeus na Alemanha nazista. É material indispensável aos que desejam (tentar) entender o período sombrio pelo que o mundo, e a Europa em especial, passou.

Por Rodrigo Trespach

Compre o livro, saiba mais sobre a obra e as autoras no site da Cultrix.

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!