Trótski – Exílio e assassinato de um revolucionário

Trótski Exílio e assassinato de um revolucionário

Patenaude conseguiu traçar em um único livro o perfil do político, do revolucionário, do militar e o Trótski da intimidade em Coyoacán – com sua criação de coelhos e coleção de cactos.

A capacidade do talentoso jovem judeu nascido em Ianovka (hoje Bereslavka, na Ucrânia) para arregimentar multidões em torno de sua oratória marxista ou liderar soldados diante das enormes adversidades de uma guerra fratricida, estava longe de sua capacidade de agregar pessoas em torno de si ou criar um grupo partidário coeso e homogêneo capaz de superar seus adversários dentro do próprio partido. Trótski simplesmente não era organizado e prático, nem era dado a contemporizações; e muitas vezes desagradou ou fez inimigos até entre seus mais fiéis seguidores. O partidário Max Eastman avaliou que Trótski “era tão incapaz de construir um partido quanto de construir uma casa”. Essa inaptidão lhe foi fatal.

Em Trótski – exílio e assassinato de um revolucionário (Zahar, 2014) o historiador norte-americano Bertrand M. Patenaude, pesquisador do Hoover Institution, da Universidade de Stanford, retrata os últimos anos de exílio do revolucionário soviético, passados no México, na pequena Coyoacán, e reconstrói os passos da carreira surpreendentemente heroica e ao mesmo tempo trágica de Trótski; dos exílios na Sibéria, passando pela organização do Exército Vermelho, a instalação do poder bolchevique, a ruptura com Stálin e o partido, as perseguições e constantes preocupações com espiões, o assassinato dos familiares mais próximos até o seu próprio.

Quando Lênin morreu em 1924, Trótski deveria ser seu sucessor natural, mas para Patenaude, ele “nunca adquiriu os hábitos necessários para trabalhar dentro de uma organização política, muito menos para manobrar nos corredores do poder”. Expulso do partido em 1927, exilado no Cazaquistão no ano seguinte e finalmente expulso da URSS em 1929, foi perseguido por Stálin até 1940, ano de sua morte.

Patenaude conseguiu traçar em Trótski – exílio e assassinato de um revolucionário o perfil do político, do revolucionário, do militar e o Trótski da intimidade em Coyoacán, com sua criação de coelhos e coleção de cactos. Com base em um enorme arquivo documental, composto de cartas, diários e  textos de Trótski, guardados nos Estados Unidos – enviados para Harvard pouco antes de seu assassinato –  aliando relatos e documentos de familiares, de seus guarda-costas, repórteres, artistas, como Diego Rivera e Frida Kahlo, que receberam o casal e cederam a Casa Azul como sua primeira residência mexicana, entre outros, que mantiveram contato com ele no exílio ou em seus dias de glória, Patenaude entrelaça a vida cotidiana de Trótski no exílio – sua intensa atividade literária, discussões filosóficas em torno do marxismo e do materialismo dialético, até mesmo seu romance com Kahlo – com flashbacks dos grandes acontecimentos vividos pelo revolucionário na Rússia.

Com pouco apoio político e dependendo de ajuda financeira de um pequeno grupo de trotskistas espalhados pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos e na França, além da pequena renda vinda da venda de seus livros e artigos, o assassinato do “Velho” – como  Trótski era conhecido na intimidade – pelos agentes de Stálin era apenas uma questão de tempo.

O fim chegou em 20 de agosto de 1940, quando Ramón Mercader, um agente espanhol do GPU (Diretório Político Unificado do Estado) – depois NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos), e finalmente KGB (Comitê de Segurança do Estado) –  usando o nome falso de Franck Jacson, conseguiu se infiltrar na casa número 19 da Avenida Viena, última residência de Trótski em Coyoacán, e desferir-lhe um golpe de picareta na cabeça. Mesmo tendo sobrevivido ao ataque, Lev Davidovich Bronstein morreria no dia seguinte, às 19 horas e 25 minutos. Stálin havia vencido todas, incluindo a última batalha contra Trótski.

Até o último dia, Trótski continuou aferrado ao mito do Outubro Vermelho, no marxismo e em sua visão de um futuro soviético glorioso. Sua visão utópica de mundo destinava à Rússia o exemplo de “verdadeira democracia” e “fator de paz e emancipação social”.

Por Rodrigo Trespach

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