O neonazismo no Rio Grande do Sul

O Neonazismo no Rio Grande do Sul

O neonazismo não está associado somente à colônia alemã ou à descendentes de imigrantes alemães, como a mídia invariavelmente faz a opinião pública acreditar. Em que pese ser a Alemanha a origem do nazismo, o neonazismo não é somente “coisa de alemão”.

O tema nazismo é, invariavelmente, um assunto polêmico e sua forma atual, o neonazismo, é polêmico tanto pelo ponto de vista histórico quanto no ponto de vista sociológico. O crescimento da extrema-direita na política europeia assusta tanto a Europa quanto as ações de grupos extremistas associados ao neonazismo assustam brasileiros. Mas neonazismo não está ligado somente à colônia alemã ou à descendentes de imigrantes alemães, como a mídia invariavelmente faz a opinião pública acreditar. 

Em O neonazismo no Rio Grande do Sul (EdiPUCRS, 2012), o professor do Departamento de História da PUCRS René E. Gertz apresenta de forma concisa uma pesquisa acadêmica séria que desmistifica o senso comum de que o movimento neonazista gaúcho estaria associado exclusivamente a descendentes de alemães.

Especialista na área, com doutorado na Universidade Livre de Berlim, onde desenvolveu uma tese sobre germanismo, nazismo e integralismo na década de 1930, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, Gertz é um dos mais conceituados historiadores no assunto.

Polêmico, reconhece que o livro foi escrito no intento de polemizar, “chegando a parecer panfletário”. Gertz “se reserva o direito a algum grau de fervor e paixão” no combate àqueles que escrevem “com ira e paixão” visões distorcidas e tendenciosas. Tudo porque acredita que o que tem sido posto diante dos olhos do grande público ameaça a estabilidade e a paz da sociedade, gerando conflitos e “uma escalada de ódios étnicos” infundados.

Gertz credita a parcialidade de setores da imprensa, que têm levado a divulgação de informações erradas ou distorcidas, falsas avaliações por parte do público desconhecedor do processo histórico e das atividades das colônias alemãs gaúchas. O exemplo mais comum disso é a ligação geralmente feita quanto à uma ligação direta entre os líderes nazistas da década de 1930 e os atuais movimentos neonazistas e skinheads.

Para ele, os (descendentes de) imigrantes alemães são sempre vistos de maneiras opostas: os que observam os resultados econômicos da imigração tendem a emitir opiniões favoráveis, lembrando o desbravamento das florestas ou a modernização da economia urbana; enquanto quem opta por um olhar político, faz um diagnóstico negativo. Desta forma, os alemães e seus descendentes nunca teriam se tornado verdadeiros cidadãos brasileiros, demonstrando desinteresse total pelo país e insistido na manutenção da cultura germânica e na lealdade à Alemanha, constituindo um potencialmente perigoso exército a favor do imperialismo alemão na primeira metade do século XX.

O neonazismo no Rio Grande do Sul traz como acréscimo a reflexão,  diversas reportagens publicadas em jornais e portais, entrevistas e artigos do autor para jornais e e-mails trocados com autoridades públicas e civis a respeito das atividades neonazistas e de skinheads no Brasil. Dedica um capítulo especial ao delegado da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Paulo Cesar Jardim, um dos responsáveis por divulgar, sem nenhum critério científico, a ideia de que o neonazismo gaúcho estaria associado ao processo histórico de imigração alemã.

Em O neonazismo no Rio Grande do Sul, o professor Gertz prova, com dados estatísticos e análise livre de preconceitos, que apesar de contar com elementos de origem alemã, eles não são a maioria dentro do movimento neonazista. Das 32 pessoas que as autoridades classificaram como neonazistas ou skinheads, o que foi amplamente divulgado pela mídia, o historiador constatou que somente cinco deles tinha ancestrais alemães. Gertz contesta, assim, qualquer ligação dos neonazistas gaúchos da atualidade com os antepassados que vieram da Alemanha no século XIX. Em que pese ser a Alemanha a origem do nazismo, o neonazismo não é somente “coisa de alemão”.

Por Rodrigo Trespach

Compre o livro ou saiba mais sobre a obra no site da EdiPUCRS. Para conhecer o autor e seus trabalhos, acesse a página oficial do professor www.renegertz.com

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