Operação Brasil

Operação Brasil: o ataque alemão que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial

Historiador militar brasileiro revela os detalhes da “Operação Brasil”, o plano de ataque nazista aos portos e às linhas de navegação brasileiras, e acaba com o mito de que norte-americanos teriam afundado navios brasileiros a fim de forçar a entrada do Brasil na Segunda Guerra e de que o país sofreria uma invasão alemã.

A Alemanha de Hitler nunca planejou invadir o Brasil. E os ataques de agosto de 1942 não foram ordenados pelo Führer alemão. Quem afirma é o historiador militar brasileiro Durval Lourenço Pereira, autor de Operação Brasil – o ataque alemão que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial, lançado recentemente pela Editora Contexto.

Tenente-coronel R/1 do Exército Brasileiro, formado na Academia Militar das Agulhas Negras, e produtor do documentário Lapa Azul, sobre a participação do III Batalhão do 11º Regimento de Infantaria na Segunda Guerra, exibido pelo History Channel, Durval Lourenço Pereira foi mais longe do que os historiadores antes dele.

Com base em farta documentação, que incluem os diários de bordo dos comandantes dos U-boats alemães, os relatórios da Kriegsmarine – a Marinha de Guerra Alemã – e no depoimento do almirante Erich Raeder durante os julgamentos de Nuremberg, além do acervo de arquivos alemães, brasileiros e norte-americanos, Pereira acaba com o mito de que os alemães preparavam uma grande invasão anfíbia à costa brasileira.

Operação Brasil foi autorizada pelo próprio Führer no dia 15 de junho de 1942, mas nunca chegou a ser concretizada por completo – por motivos diversos, entre eles a delicada situação diplomática da Alemanha com os países sul-americanos. Os ataques que levaram o Brasil a guerra foram realizados em agosto daquele mesmo ano por um “lobo solitário”, o U-507. O planejado ataque, que envolveria vários U-boats, nunca se concretizou.

Com novos dados, principalmente o diário de bordo do comandante do U-507 Harro Schacht, o historiador brasileiro também encerra com mais de sete décadas de mistérios sobre os torpedeamentos de navios na costa brasileira. O torpedeamento do Baependi e de outras cinco embarcações brasileiras, que levaram o Brasil a entrar no conflito em agosto de 1942, foi realizado por um submarino alemão e não por forças norte-americanas como muito se especulou até hoje. E realizado por uma ação deliberada do U-507.

Como uma parte dos militares brasileiros tinha inclinação pró-Eixo, a historiografia da participação do Brasil na Segunda Guerra sempre aventou a possibilidade de que os norte-americanos teriam afundado navios mercantes brasileiros com a intenção de comover a opinião pública e forçar o governo de Vargas a declarar guerra à Alemanha de Hitler.

O jogo de xadrez que envolveu os três países foi, no entanto, muito mais complexo. Em jogo estavam não apenas a entrada do Brasil na guerra, mas a própria soberania nacional.

Para Durval Pereira, a pressão sofrida pelo Brasil por parte dos Estados Unidos se justificava. Do ponto de vista norte-americano, pois o nordeste brasileiro serviria de rota para a África, onde a Inglaterra lutava com apoio do Estados Unidos contra o Afrika Korps de Rommel. Os militares brasileiros, no entanto, acreditavam que a permanência de tropas estrangeiras no país poriam em xeque a capacidade operacional de manter a soberania da nação.

Alheio ao que os alemães planejavam, brasileiros e norte-americano custaram a fechar um acordo de cooperação, mais por receio brasileiro à influência dos EUA sobre o país no pós-guerra do que por uma aproximação com o nazismo. A historiografia brasileira supervalorizou tanto as ligações do governo Vargas com o de Hitler, como a eficiências dos espiões do Eixo no Brasil.

Mas a situação era de tal forma complicada para o Brasil naquele período, entre o final de 1941 e o começo de 1942, que se o próprio presidente Roosevelt não tivesse refreado o ímpeto do Departamento de Guerra americano, muito provavelmente o Brasil teria sofrido uma intervenção militar aliada. Os EUA precisaram aguardar uma ação da Alemanha para que o Brasil acelerasse o processo de cooperação.

Do lado alemão, se tivesse sido posta em prática de fato, a Operação Brasil poderia ter paralisado o país, ainda extremamente dependente do mercado exterior e com enormes dificuldades de transporte interno.

A verdade é que a Alemanha nunca planejou uma invasão ao Brasil. Pelo menos, nunca foram encontrados planos que confirmassem essa teoria. A Operação Brasil visava unicamente arrasar com a já precária Marinha brasileira e bombardear os principais portos do país, como punição ao auxílio brasileiro prestado a causa aliada, impedindo o uso das bases e portos nordestinos como trampolim para a África do Norte.

Mesmo porque, a Kriegsmarine não tinha recursos – materiais e humanos – para realizar uma operação da envergadura de uma invasão ao extenso território brasileiro.

As operações do U-507 de Harro Schacht no inverno de 1942, é que levaram o Brasil a, finalmente, declarar guerra a Alemanha de Hitler e a mudar o posicionamento do país diante do maior conflito bélico da história mundial.

Por Rodrigo Trespach

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