Galileu Galilei: um revolucionário e seu tempo

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As descobertas e a própria história pessoal de Galileu Galilei o transformaram no pai da revolução científica e da física moderna. Ele não foi o inventor do telescópio, mas soube aperfeiçoar e utilizar o instrumento para descobrir um mundo novo: o das estrelas.

No meio da cidade velha de Florença, próximo ao edifício Ufizzi que outrora fora do grão-duque Cosme I de Médici, está o Palazzo Castellani e o Museu de História da Ciência. Entre os muitos artefatos que pertenceram ao grande astrônomo florentino um chama a atenção entre todos. E não é seu telescópio. Trata-se de um recipiente de vidro em forma de ovo, decorado com uma faixa de metal dourado. O recipiente está sobre um alto pedestal cilíndrico de mármore; dentro dele está o dedo indicador direito de Galileu Galilei.

Poucas pessoas provocaram um impacto tão grande no destino da humanidade quanto Galileu. O matemático, físico, astrônomo e filósofo que viveu na Florença dos séculos XVI e XVII cometeu muitos erros – como ter ignorado as teorias de Kepler sobre os movimentos elípticos -, mas seus acertos, descobertas e a própria história pessoal, o transformaram no pai da revolução científica e da física moderna. Ele não foi o inventor do telescópio, mas soube aperfeiçoar e utilizar o instrumento para descobrir um mundo novo: o das estrelas.

É sob essa ótica que o escritor norueguês Atle Naess apresenta ao mundo Galileu Galilei: um revolucionário e seu tempo (Zahar, 2015), uma biografia sobre o pensamento do grande astrônomo italiano que foi posto em prisão domiciliar pelo Santo Ofício após defender as teorias de Copérnico de que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário, como defendia a Igreja.

Naess, que nasceu em Mysen, na Noruega, estudou literatura na Universidade de Oslo e foi professor antes de se tornar escritor em tempo integral, venceu o Prêmio Brage com Galileu Galilei.

Mais do que uma biografia do astrônomo, o escritor norueguês traça o desenvolvimento e o amadurecimento do pensamento de Galileu, desde suas primeiras observações e experimentos com o pêndulo e o movimento de objetos em Pisa, passando pelo livro que o tornou famoso, A mensagem das estrelas, publicado em 1611, após a descoberta dos satélites de Júpiter com o uso de seu telescópio, Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, de 1632, que lhe rendeu a prisão, até o Discurso e demonstrações matemáticas em torno de duas novas ciências, de 1638, que o imortalizou e que, por ironia do destino, Galileu recebeu seu exemplar impresso quando já estava totalmente cego.

Para Naess, Galileu foi um divisor de águas decisivo quanto à compreensão que as pessoas tinham do mundo ao seu redor. Sua descrição científica das forças naturais vestiu-se com uma roupagem nova, a matemática, e afastou-se a ciência do senso comum das observações cotidianas e das ideias com base teológica ou filosófica. Era o nascimento da ciência moderna.

Seu modo de pensamento matemático forneceu pela primeira vez uma descrição do que de fato acontece, em contradição ao que a lógica aristotélica tradicional, defendida pela Igreja Católica da época, sempre se preocupou, as especulações sobre causa e efeito. Galileu fundamenta-se em uma descrição suficientemente rigorosa da realidade, o que lhe rendeu fama e também muitos dissabores.

Mesmo depois de A mensagem das estrelas, de 1611, Galilei já havia sido advertido de que as teorias de Copérnico só poderiam ser levadas em consideração como uma  hipótese de cálculo matemático, mas que não correspondiam a “representação da realidade”.

Em O ensaiador, de 1623, ele chegou a homenagear seu antigo admirador Maffeo Barberini, agora feito papa Urbano VIII. Mas com a publicação de Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, em 1632, Galileu é chamado a prestar esclarecimentos ao Santo Ofício e obrigado a abjurar suas teorias para que não acabasse na fogueira por heresia. Um dos personagens da obra – “Simplício”, que defende a posição tradicional, com base nas obras Aristóteles e Ptolomeu – foi associado a ninguém menos do que o próprio papa e as teorias defendidas pela Igreja.

Julgado, Galileu foi preso em 1633, morrendo em 1642, em Il Gioiello, sua prisão domiciliar em Florença. A Igreja Católica levou 350 anos para reconhecer que ele estava certo.

Por Rodrigo Trespach

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