Projeto estuda o DNA dos primeiros habitantes da Patagônia

Até onde os cientistas do Projeto Genográfico podem ir para nos ajudar a revelar de onde viemos? Geograficamente falando, a resposta pode ser Puerto Williams, no extremo sul do Chile, onde montanhas irregulares cobertas de neve encontram o mar azul e criam uma paisagem expressiva e inesquecível.

Bolsista do Projeto Genográfico, a Drª Marta Alfonso-Durruty mergulhou no extremo da América do Sul para analisar dezenas de esqueletos humanos antigos, alguns dos primeiros colonos conhecidos do sul do Chile.

Por Miguel Vilar
National Geographic/Genographic Project

Dr. Marta Alfonso-Durruty examina crânio de 4mil anos de idade na Patagonia, Chile.  Foto Miguel Vilar.

A Patagônia, a Terra de Fogo, e as ilhas vizinhas do Chile e Argentina são alguns dos lugares mais remotos da Terra, onde os humanos vivem desde quando a Idade do Gelo terminou, a cerca de 10 mil anos atrás.

A mais antiga evidência conhecida de ocupação humana no sul da Patagônia é de aproximadamente 12 mil anos de idade – na forma de ferramentas de pedra lascada -, enquanto alguns dos mais antigos esqueletos humanos encontrados em várias partes da Patagônia são quase tão antigos quanto.

“De todos os lugares do mundo, o sul do Chile é um dos mais importantes antropologicamente, historicamente, e biologicamente falando”, observou a Drª Alfonso-Durruty. “Como o ponto mais meridional das Américas, e, possivelmente, extremo sul da Terra, esta área fornece uma linha de base com a qual podemos responder a perguntas como: Quem eram essas pessoas que primeiro chegaram e se instalaram neste terreno remoto?”.

Drª Alfonso-Durruty, uma antropóloga chilena, está analisando esses restos humanos antigos, especificamente à procura de dentes bem preservados para que se possa extrair o DNA. O DNA antigo extraído desses dentes vai ser comparado com a das populações da Terra do Fogo modernas, nesta pitoresca parte do mundo.

Para coletar as amostras, a Drª Alfonso-Durruty está trabalhando com as comunidades Yagan, Selknam, e Kaweshkar que ainda vivem no sul do Chile. “Hoje, os descendentes desses ‘canoístas’ são encontrados em poucas comunidades restantes que habitam as áreas insulares da região. Trabalhar com essas comunidades é essencial para entender as conexões entre as histórias muito antigas e mais recentes das pessoas a partir deste canto isolado do mundo”.

Alguns pesquisadores acreditam que os polinésios atingiram a costa do Chile e estabeleceram-se entre as pessoas que já viviam lá. Outros acreditam que indígenas da Terra do Fogo foram praticamente dizimados por doenças e escravidão nas mãos dos colonizadores europeus. Quanto ainda existe de DNA polinésio ou europeu em populações foguinas de hoje é uma questão que a Drª Alfonso-Durruty espera responder em breve.

As terras pitorescas do sul do Chile foram também o local de descobrimento para o explorador Fernão de Magalhães em sua intrépida viagem de circunavegação. Hoje, as águas estreitas que ligam os oceanos Atlântico e Pacífico e que Magalhães navegou ainda mantêm o seu nome. Seguindo gravuras de Magalhães, 300 anos mais tarde o biólogo Charles Darwin atravessou as mesmas águas em busca de outro caminho – um que iria ligar fósseis com a vida moderna. Suas ideias sobre evolução abririam o caminho para o trabalho dos cientistas do Projeto Genográfico, como a Drª Alfonso-Durruty hoje.

Por Miguel Vilar
Fonte: National Geographic/Genographic Project
Tradução e adaptação Rodrigo Trespach

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!