Napoleão e a Síndrome de Zollinger-Ellison

No fim da vida, Napoleão Bonaparte teria se transformando em uma “mulher” – pelo menos quanto a constituição hormonal. Essa é a informação que circula na internet depois de um post do Canal History Brasil ter reproduzido, em parte, uma notícia publicada por um jornal na Espanha. Um pouco de sensacionalismo. E nenhuma novidade.

Uma pesquisa científica realizada na década de 1980 por um famoso endocrinologista trouxe à tona este dado estranho e sombrio sobre os últimos anos de vida de Napoleão.

Além das dores causadas pelo câncer no estômago – a causa mais aceita para sua morte – o líder militar e político francês teria padecido dos sintomas de uma doença glandular pouco comum, chamada Síndrome de Zollinger-Ellison.

Esse mal teria motivado uma estranha mutação no corpo de Napoleão depois dos 40 anos. No início dessa metamorfose, seu corpo adquiriu formas mais arredondadas, enquanto sua genitália atrofiava. Seu pênis, assim como sua máscara mortuária, também motivo de controvérsia, teria apenas 4 cm – e não mais do que 6,5 cm quando em ereção.

Até hoje no entanto, apesar de vários teorias, não há um veredito final sobre a causa da morte do imperador; e afirmar que Napoleão estava se transformando em “mulher” é ser leviano, para dizer o mínimo, já que se tratava de uma doença – se a teoria for real – e não algo proposital.

Por Rodrigo Trespach

Napoleão

O corpo do militar francês foi coberto por uma espessa camada de gordura, sua pele era branca e ombros estreitos. Os médicos que viram seu corpo destacaram a beleza de seus braços e os seios redondos e sem pelos, “muitas mulheres o teriam invejado”.

Depois do desastre na Batalha de Waterloo, as tropas da sétima coalizão entraram na França para capturar Napoleão. Em 1º de julho, von Blücher ocupou Versailles e, uma semana depois, a coroa de Luís XVIII foi restaurada. Em uma última tentativa desesperada, Napoleão tentou fugir de barco para a América, mas foi capturado pelos britânicos, que se fizeram de surdos aos seus pedidos de asilo.

O antigo senhor da Europa foi exilado para a remota ilha de Santa Helena, a centenas de quilômetros da África, onde passou seus últimos seis anos de vida, afetado por uma doença estranha que segundo uma hipótese defendida nos anos oitenta pode sido causada por mal glandular.

Napoleão tinha sido banido para uma ilha remota, Elba, antes de iniciar os cem dias que terminaram com seu fracasso em Waterloo. No entanto, as condições da sua detenção em Santa Helena eram muito mais difíceis e afetaram muito seu estado de espírito. Cativo dos britânicos, que no futuro continuaram a usar a ilha como uma prisão para figuras políticas, e rodeado por um punhado escasso de seguidores, Napoleão Bonaparte começou a sofrer constantemente de dor no lado direito, idêntico ao seu pai tinha pouco antes sua morte, oficialmente por causa de um câncer de estômago.

A dor, que especialistas modernos têm apontado como sido por causa de um envenenamento por arsênico, foi lentamente consumindo a vida de Bonaparte; e foi acompanhada de outros sintomas.

Napoleão cruzando os Alpes

Zollinger-Ellison

Além da hipótese de intoxicação ou câncer de estômago, o dr. Robert Greenblatt, especialista em endocrinologia, defendeu na década de 1980 uma curiosa teoria que explicaria a estranha deterioração física que estava sofrendo a “Grande corso” na última etapa de sua vida.

Seu corpo foi se tornando arredondado e seus órgãos genitais começaram a atrofiar, como relataram os que, depois da morte do imperador, profanaram o corpo. Segundo defendeu o pesquisador norte-americano na revista científica British Journal of Sexual Medicine, a partir dos 40 anos de idade Napoleão passou a apresentar os sintomas de uma condição conhecida como Síndrome de Zollinger-Ellison: uma espécie de “transexualização”.

A Síndrome de Zollinger-Ellison é causada por tumores, geralmente localizados na cabeça do pâncreas e do intestino delgado superior. Normalmente as pessoas afetadas por estes tumores sofrem de neoplasia endócrina múltipla tipo I (MEN I), que causam distúrbios hormonais graves.

Como prova, Greenblatt observou que o exame pós-morte revelou que o corpo do imperador era coberto por uma espessa camada de gordura, pele branca, estreitamento dos ombros, mãos e pés pequenos, a tal ponto de vários forense ficarem maravilhados com a beleza de seus braços e seios redondos e sem pelo, “que muitas mulheres teriam  invejado.”

Sendo um homem de compleição atlética em sua juventude e um amante ardente – especialmente durante a época de seu casamento com Josefina -, na maturidade Napoleão começou a ganhar peso e desenvolver alguns traços femininos, como ausência de pelos faciais e pele extremamente suave. Sua atividade sexual reduziu sobremaneira após seu casamento com a imperatriz Maria Luísa, e ele começou a sofrer de várias doenças que o acompanharam até seus últimos dias: letargia (sonolência prolongada), dormência nas pernas e fortes dores de estômago.

O cativeiro duro na ilha de Santa Helena, onde passou os últimos seis anos de sua vida, não ajudou muito a melhorar o seu estado de saúde. Sua última casa, Longwood House, era uma grande vila abandonada situada em uma área de clima insalubre. “Morro antes de meu tempo, assassinado pela oligarquia inglesa e seu sicário”, escreveu Napoleão dias antes de sua morte aos 51 anos, queixando-se do tratamento dispensado por parte dos carcereiros britânicos. Finalmente, ele morreu em 5 de maio de 1821 às 17h49min. Suas últimas palavras: “França, Exército, Josefina.”

Embora Napoleão tenha pedido em seu testamento para ser enterrado em Paris, os britânicos não quiseram alimentar o mito e ordens foram dadas para que o corpo não deixasse Santa Helena. Somente em 1840, a pedido do governo de Luis Felipe I, seus restos mortais foram repatriados para a França.

Fonte: César Cervera/ABC
Tradução e adaptação Rodrigo Trespach

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