O bergantim Carolina trouxe à colônia de São Leopoldo 57 famílias e um viúvo, num total de 288 pessoas, a maioria famílias do Grão-Ducado de Hessen-Darmstadt, também chamado de região do Rheinhessen, hoje Rheinland-Pfalz e que compreende a área entre as cidades de Bad Kreuznach e Alzey.
Tendo ele partido do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1825, chegou à capital da província após 30 dias de viagem. Os integrantes do costeiro, desembarcados em Porto Alegre, foram levados então a São Leopoldo onde Hillebrand os registra em 15 de janeiro de 1826. A única exceção é o imigrante Martin Schneider, que chegou na Feitoria Velha em 7 de março de 1826.
O historiador gaúcho Carlos H. Hunsche, publicou pela primeira vez a história desse costeiro em seu O ano de 1826 da Imigração e Colonização Alemã n o Rio Grande do Sul. Ele se referiu ao Carolina como “o costeiro que foi rondado pela fome e pela morte”. Hunsche encontrou a carta escrita pelos colonos-passageiros ainda em viagem, datada de 4 de janeiro de 1826, no Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Um importante relato das dificuldades que as famílias desse barco tiveram que passar para concluir seu destino, escrita em alemão a carta têm como título “Unterthänigst gehorsamste Bechwerde von Seiten der von Rio Janairo nach Porto Negre gehenden Colonisten“ (Submissa e muito obediente queixa de parte dos colonos em viagem do Rio de Janeiro à Porto Alegre).
É um apelo desesperado por ajuda. Tratados a farinha de mandioca e privados até de pão pelo capitão do barco – do qual infelizmente a história não registrou seu nome, que deixou de alimentá-los para vender os mantimentos pelo dobro do preço em Porto Alegre devido à eclosão da guerra contra a Argentina. Faleceriam na viagem de 30 dias pelo menos 20 pessoas entre crianças e velhos, todas jogadas ao mar.
Segue a transcrição e a tradução (para o download da carta original,
do acervo do Arquivo Histórico de Porto Alegre, clique na, imagens abaixo)
Submissa e muito obediente queixa da parte dos colonos em viagem do Rio de Janeiro à Porto Alegre
Muito louvável Governo Imperial
Extrema precisão nos obriga e nos faz indispensavelmente necessário comunicar ao Alto Governo a situação miserável em que nos encontramos e a pedirmos socorro.
Durante quinze dias estivemos atracados na Praia Grande, perto do Rio de Janeiro, onde fomos alimentados à satisfação de todos. Depois fomos transferidos para o navio Carolina, onde nos encontramos atualmente e onde nos foram reduzidos sensivelmente os viveres.
Inicialmente recebíamos um pouco de biscoito e ao meio-dia feijão e arroz, mas apenas para saciarmo-nos precariamente. De um dia para o outro, fomos privados dos biscoitos e recebemos, em seu lugar, farinha de mandioca. Inicialmente não sabíamos o que fazer com ela, depois a gente começou a prepará-las em frigideiras. Mas tivemos de pagar por isso aos negros que trabalham na cozinha.
Mas agora também a farinha escasseia, tanto que já não podemos aguentar mais. Antes de chegarmos a Rio Grande, o capitão costumava consolar-nos dizendo que tivéssemos paciência, ele lá, compraria pão, mas ele não cumpriu com a palavra, pois, quando chegamos ao porto de lá, o capitão foi para a vila ao lado do porto e, ao voltar, declarou que não havia pão. Depois de muito rogar, quatro pessoas obtiveram a licença de ir até lá, durante a noite, a fim de comprar pão com dinheiro próprio. O capitão ainda prometeu que, na manhã seguinte, outros quatro poderiam ir a terra. Apesar da notícia trazida pelos primeiros quatro de que haveria pão de sobra, isso não nos ajudou, pois ao clarear do dia o capitão deu ordens para o navio partir. Os marinheiros haviam trazido um saco cheio de pão e algumas garrafas de aguardente, o que venderam aos colonos ao preço dobrado.
Já faz três dias que partimos de Rio Grande e estamos a onze milhas de lá, conforme disse o capitão. Vemo-nos diante de nossa completa ruína por causa da viagem expressamente má, dos ventos desfavoráveis e pelo fato de ficarmos seguidamente atolados em bancos de areia. Dizem que o barco está abastecido de viveres para cinco ou seis dias somente e é bem provável que mesmo em quinze dias ainda não tenhamos chegado ao nosso destino.
De manhã cedo, nossas crianças, as que ainda estão vivas, choram gritando de fome, pois até agora, nenhuma vez foram saciadas suficientemente. Muitas destas crianças e também pessoas idosas, por não estarem acostumadas a esta vida ruim e inusitada, já estão doentes e serão, em breve, jogadas à água.
Francamente, não podemos imaginar que este tratamento de escravos seja a vontade de Sua Majestade, o Imperador, considerando o quanto lhe temos custado para chegar até aqui.
Pedimos, pois, a esse Alto Governo, que nossa situação de miséria seja modificada e esperamos confiantes que nosso desejo seja cumprido, firmando-nos desse Alto Governo Imperial, muito humildes e submissos colonos.
A bordo do bergantim Carolina, a 4 de janeiro de 1826.
Seguem-se 40 assinaturas: Theobald Ewald Ermel, Christoph Wilhelm Weinz, Jacob Purper, Friedrich Bohrer, Georg N. Herringer, Anton Wehling, Valentin Heineck, Martin Zimmermann, Georg Krämer, Franz Martin, Georg Loré, Jacob Feeck, Carl Veeck, Christian Ritter, Philipp Cornelius, Friedrich Engers, Nicolaus Helbig, Johannes Vetter, Philipp Koch (o único que assinou com os três x, sinal dos analfabetos), Philipp Peter Schmitt, Wilhelm Stahlhofer, Franz Weingertner, Paul Diehl, Johannes Daudt, Jacob Dick, Peter Sieben, Peter Borger, Johannes Niederauer, Johannes Schmidt, Adam Belz, Philipp Hoffmann, Peter Knobloch, Philipp Schneider, Lorenz Dexheimer, Konrad Brandt, Martin Schneider, Johannes Niederauer (o pai), Martin Huster, Johann N. Schuler e Jacob Krebs.
Por Rodrigo Trespach
© Texto extraído de forma reduzida do livro Borger, Justin, Schmitt e outras famílias de origem germânica de Rodrigo Trespach
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Incrível a história desses bravos alemães! Meu ancestral Carl Veeck também estava a bordo desse navio com sua esposa e seus filhos. Obrigado por nos trazer essas informações.
Tive acesso e tirei boas fotos de jazigos de alguns passageiros, como da familia Blos e Schirmer. Se alguem tiver interesse nas fotos compartilho, claro que gratuitamente: Whats: 51 983277400.
Procuro saber sobre meu Bisavô que chegou Solteiro Aqui no Brasil e Sozinho sem família com ele.
Seu nome é João Mauricio Muller
Obrigada por compartilhar.
Valentin Heineck é um dos meus antecedentes, ele estava neste navio.
Meu antepassado Anton Neumann segundo informações coletadas na internet faleceu nessa embarcação. Gostaria de saber a fonte dessas informações. Muito obrigada!
Alexandre, Peter Zink era capitão do transatlântico Argus e não do costeiro Carolina.
O Capitão do navio era Peter Zink.
Valentin Heineck (com 3 filhos e a esposa) que também assina a carta era meu antepassado direto (6 gerações) e seu filho Christian Heineck que tb estava no navio (obviamente antepassadi direto de 5 gerações).
Johann Nicolau Schuler, que consta como um dos quarenta alemães que assinaram esta carta, é meu tataravô. É espetacular poder ter acesso a estas informações e conhecer um pouco mais da história da família.
Obigada!
Liege Schuler
Arno Bohrer Neto!
A respeito de “Friedrich Bohrer que assinou esta carta é meu antepassado direto em 6 gerações,ele perdeu a esposa no navio Ana Margarida Trein.
O filho mais velho deste primeiro casamento é Johann Philipp Bohrer, pai de meu tataravô.
Muito legal achar esta carta no site!!!
Infelizmente não sei onde Johann Friedrich Bohrer (Frederico Bohrer) está enterrado, se alguém souber o cemitério agradeço muito…..
Essa é sua data de nascimento e falecimento.
4 de Ago de 1788
31 de Jul de 1862”
Ele está enterrado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Não sei precisar exatamente onde. Essa informação retirei de pesquisas que tenho feito na internet. Seu avô, Arno Bohrer, se não me engano, era primo do meu pai.
Se estiver trabalhando no resgate da genealogia Bohrer, entre em contato comigo; também estou à procura de documentos.
Luciane Bohrer Adamy
Gostaria de saber se tem algum relato da familia TRENZ que veio a bordo desse navio Carolina em 15.01.1826 chegando a São Leopoldo.
Obrigado
EU ESTOU A POGURA DA ANTEPASSADOS DA PETER KONRAD NACSIDO ENTRE 1826 PRA CÁ.
Dizem que meus SCHREIER eram originários da região que hj. é RHEINLAND PFALZ colonos SEM-TERRA sendo assentados no IMPÉRIO AUSTRÍACO (Galícia) para germanização da região de BECKERSDORF (hj. Ucrânia). Pergunto como e onde encontrar a documentação destes ASSENTADOS, no caso dos meus SCHREIER, que os localizei neste assentamento.
Friedrich Bohrer que assinou esta carta é meu antepassado direto em 6 gerações,ele perdeu a esposa no navio Ana Margarida Trein.
O filho mais velho deste primeiro casamento é Johann Philipp Bohrer, pai de meu tataravô.
Muito legal achar esta carta no site!!!
Infelizmente não sei onde Johann Friedrich Bohrer (Frederico Bohrer) está enterrado, se alguém souber o cemitério agradeço muito…..
Essa é sua data de nascimento e falecimento.
4 de Ago de 1788
31 de Jul de 1862
abs
Arno Bohrer Neto
Je me suis toujours demander ,l’origine de mon nom .car je suis française !!?mai je s’en en moi que mon nom a une histoire !fabuleuse et tragique à demain fois .
Olá Junior, o nome do capitão do barco “Carolina”, um costeiro, é desconhecido.
O Peter Zink mencionado era capitão do “Friedrich Heinrich”, navio que fez a viagem da Holanda até o Rio de Janeiro.
Abs
O nome desse amável e cumpridor da divina bondade capitao era Peter Zink.
A triste saga dos imigrantes alemães para o Brasil/Sul…cita-se também as dificuldades que alguns imigrantes tiveram na travessia da Europa para o Brasil onde o navio ficava preso na calmaria do mar por semanas e a única saída era rezar para o vento soprar! aqui está o relato dos imigrantes alemães AsmanMuller gravado em seu pequeno monumento de pedra às margens da Linha Santa Cruz.