Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror

Estado Islâmico Hassan Hassan e Michael Weiss

Jornalista norte-americano e especialista sírio para o Oriente Médio explicam em livro como o Estado Islâmico evoluiu de um pequeno grupo de extremistas no Iraque para um exército jihadista composto de voluntários internacionais.

Não é fácil para o público do ocidente entender os extremistas que seguidamente aparecem nas TVs de todo o mundo torturando e decapitando prisioneiros. A começar pelo próprio nome. O Estado Islâmico, ou Daesch, acrônimo árabe para Dawla al-Islamiya fil Eraq wa Sham (Estado Islâmico do Iraque e al-Sham), que inicialmente era chamado de ISIS, do inglês Islamic State of Iraq and al-Sham, é o assunto do momento, seja pela crueldade de suas ações, seja pela migração em massa de populações árabes que entram na Europa fugindo de seu exército que já ocupou partes do Iraque e da Síria.

Estado Islâmico: Desvendando o Exército do Terror (Seoman, 2015) foi escrito por Michael Weiss, colunista da revista Foreign Policy, dos sites The Daily Beast e Now Lebanon e editor do The Interpreter, e Hassan Hassan, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Nottingham, analista especializado em Oriente Médio do jornal The National e autor de reportagens para o The Guardian e The New York Times.

Baseado em entrevistas exclusivas com ex-oficiais militares norte-americanos e atuais combatentes do grupo radical, Weiss e Hassan explicam quem são os protagonistas do Estado Islâmico, de onde vêm, como têm atraído tanto apoio local e global, e como eles operam. 

O Estado Islâmico, EI, não é novo, surgiu das cinzas da Al-Qaeda no Iraque, um dos inimigos mais brutais dos americanos. A Al-Qaeda no Iraque foi derrotada depois que os Estados Unidos convenceram tribos locais a se erguer contra ela – uma estratégia conhecida como The Awakening (O despertar), que influenciou as ações do EI. 

O EI fez de tudo para impedir que isso acontecesse novamente: construíram células “adormecidas”, compraram lealdade e dividiram tribos, tornando a resistência interna praticamente impossível.

O Estado Islâmico superou-se em expressar sua luta em termos históricos mundiais. O grupo prometeu tanto a morte, quanto um retorno às glórias antigas do Islã.

Weiss e Hassan revelam também o EI como uma vingança do regime do Partido Baath, de Saddam Hussein, mais de uma década depois do ditador iraquiano ter sido derrubado do poder. Muitos dos principais tomadores de decisão do EI serviram no exército de Saddam ou nos serviços de segurança.

Embora os baathistas fossem originalmente um movimento secular, Saddam introduziu uma “campanha de fé” na década de 1990 que buscava islamizar a sociedade. A ação de Saddam radicalizou muitos baathistas e eles combinaram a violência do regime com a do jihadismo, superando o radicalismo da Al-Qaeda.

Osama bin Laden, o número 1 da Al-Qaeda e que inicialmente era apoiado por norte-americanos na luta contra os soviéticos, se desentendeu com o líder da Al-Qaeda no Iraque Abu Musab al-Zarqawi por sua brutalidade horrível e pelos ataques sectários contra muçulmanos xiitas. Zarqawi, que foi morto por um ataque norte-americano em 2006, era tão fanático que fez Bin Laden parecer um moderado. Foram exatamente as ideias de Abu Musab al-Zarqawi que EI absorveu depois da morte de Osama.

Weiss e Hassan descrevem ainda as seis categorias de recrutas do EI. E, ao contrário do que é amplamente divulgado, apenas duas estão enraizadas na religião islâmica: elas incluem os ultrarradicais que dominam os escalões superiores do grupo e as pessoas que aderiram recentemente à sua ideologia extremista. 

Chechenos, como regra, são vistos por outros jihadistas do Estado Islâmico como guerreiros mais formidáveis que há, devido a décadas de experiência lutando uma insurgência extenuante contra o exército russo.

Muitos dos recrutados são oportunistas que buscam dinheiro e poder; pragmáticos que querem estabilidade e encaram o EI como a sua única chance; e os combatentes estrangeiros cujos motivos variam muito, mas são quase sempre alimentados por equívocos graves de interpretação sobre o que está ocorrendo no Oriente Médio. A última categoria e a mais importante de recrutamento, muitas vezes subestimada pelo Ocidente, é de recrutas atraídos pela ideologia política do grupo.

Para Weiss e Hassan, as avaliações equivocadas das forças que poderiam destruir o EI podem levar a guerra a um período ainda pior do que a situação atual. “O Exército do terror estará conosco indefinidamente”, afirmam.

Por Rodrigo Trespach

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