Benjamin Franklin: uma vida americana

Benjamin Franklin

Um dos homens mais influentes do século XVIII ganhou uma biografia a altura de sua importância na história da civilização ocidental. Walter Isaacson escreveu uma obra digna de Benjamin Franklin. Um Franklin além da eletricidade e da nota de dólar.

Benjamin Franklin é um dos personagens mais populares da história norte-americana. E não é por sua participação no processo de independência dos Estados Unidos. Franklin já se tornara uma celebridade mundial muito antes da redação da Declaração de Independência ou na elaboração da Constituição americana.

Em Benjamin Franklin – Uma vida americana (Companhia das Letras, 2015), Walter Isaacson, autor do best-seller Steve Jobs: A biografia, também editado no Brasil pela Companhia das Letras, narra como um homem pobre e sem instrução formal se transformou em jornalista, escritor, filósofo, diplomata, inventor e cientista famoso, aclamado e respeitado em uma sociedade estratificada como era a Europa do século XVIII.

Isaacson, que é diretor-geral do Aspen Institute e editor administrativo da revista Time, além de ter sido presidente da CNN, uma das mais importantes redes de TV americanas, escreveu que “a coisa mais interessante que Franklin inventou, e reinventou incessantemente, foi ele mesmo.”

De origem humilde, Franklin aprendeu a ler sozinho e com dez anos de idade foi obrigado a deixar os estudos para trabalhar com o pai e, mais tarde, na oficina gráfica do irmão. Com apenas 17 anos mudou-se para Filadélfia onde trabalhou como impressor, dedicando as horas de folga ao estudo das letras e das ciências e gastando todo o pouco dinheiro que ganhava com os livros.

Como homem público, Franklin ajudou a criar uma séria de instituições para o bem comum, entre elas uma biblioteca circulante, uma brigada de incêndio, corpos de vigias noturnos, um hospital, uma milícia, uma sociedade filosófica e uma instituição de ensino superior – instituição que mais tarde se transformaria na Universidade da Pensilvânia

“O que os homens de bem podem fazer separadamente é pouco em comparação com o que podem fazer coletivamente”.

A biblioteca circulante foi a primeira na América. Criada em 1731, a Companhia da Biblioteca da Filadélfia era composta por livros doados por vários membros da Junta, uma organização também criada por Franklin e composta por pequenos comerciantes e artesãos para promover o debate filosófico, o autoaperfeiçoamento e a ajuda mútua e comunitária. A Junta ficou conhecida como “Clube do Avental de Couro”. A analogia à maçonaria era evidente. De fato, Franklin tornara-se membro da loja da Filadélfia em 1730.

Em 1729, como proprietário de uma oficina gráfica iniciou a publicação do jornal Pennsylvania Gazette e, com o pseudônimo de Richard Saunders, do almanaque Poor Richard’s (Almanaque do Pobre Ricardo), coletânea de anedotas e provérbios populares. Ambos tiveram grande êxito e deram renome a Franklin. Saunders foi apenas um de seus muitos pseudônimos, tão comuns no século XVIII. Alguns são curiosos e engraçados, como a senhora “Silence Dogood” e “Busy-Body” (Abelhudo).

Seu sucesso como editor e como chefe dos correios das colônias o permitiram deixar os negócios antes aos 42 anos. Passaria a dedicar-se à política e à ciência que tanto amava. Como cientista, estudou  as correntes marítimas, construiu uma estufa, uma harmônica de vidro e uma bateria com garrafas de Leyden, investigou o fenômeno da eletricidade, estudo que o levou à invenção do para-raios em 1749 e pelo qual ele ficaria mundialmente famoso. Termos criados por ele nessa área, como positivo, negativo, bateria e condensador, são até hoje usados. Já na época da revolução americana, o estadista francês escreveria sobre ele: “Ele arrebatou o rio do céu e o cetro dos tiranos”. 

Incrivelmente, Franklin não era um teórico, suas pesquisas se limitavam a aplicar, na prática, seus inventos e ideias. Enquanto jovem editor escreveu sobre normas (“Plano de Conduta Futura”) e projetos de aperfeiçoamento moral ( uma lista de doze virtudes desejáveis). Entre as virtudes se encontravam

“Resolução: Resolva o que deve fazer; realize sem falhar o que resolve”.
“Frugalidade: Não faça nenhum gastão senão para fazer o bem aos outros ou a si mesmo (isto é, não desperdice nada)”.
“Diligência: Não perca tempo; esteja sempre empenhado em algo útil; corte todas as ações desnecessárias”.
“Justiça: Não seja injusto com ninguém, causando danos ou omitindo  benefícios que  são o seu dever”.

Sobre seu “Plano de Conduta Futura”, Isaacson escreveu que foi o primeiro de muitos credos pessoais que estabeleciam regras pragmáticas para o sucesso e que fizeram dele o santo padroeiro dos guias de autoaperfeçoamento”.

O Franklin político é mais conhecido hoje dado à importância econômica norte-americana  (o rosto de Franklin estampa a nota de US $ 100,00), mas até a revolução americana estourar ele era um ardoroso defensor do Império Britânico e do “espírito conciliatório”. Morando na Inglaterra desde 1762, só retornou à America em 1775 quando a guerra pela independência era eminente e inevitável.

Nem tudo eram flores na vida Franklin. Ela passou muito tempo longe da família, a esposa Deborah Read  morreu na América enquanto ele estava na Inglaterra, fato que não o motivou a retornar; o casamento com Deborah sempre fora “frugal” e  Franklin apreciava a companhia de jovens intelectualizadas com quem flertava frequentemente em cartas – ainda que em seus conselhos “a um jovem sobre a escolha de uma amante” ele sugerisse as mulheres mais velhas, por vários motivos incluindo a parte inferior do corpo: “cobrindo com uma cetas  e olhando somente o que está abaixo da cintura, é impossível distinguir entre uma velha e uma jovem”.

A relação com os filhos e netos também foi problemática, ilegitimidade e distância afetiva. O filho Wilhelm tornou-se governador de Nova Jersey e diferente do pai, que havia se transformado em ícone da luta por liberdade, lutou contra a independências das colônias.

Outra “questão moral” apresentada na biografia é a escravidão. Franklin, assim como os outros “pais fundadores do país”, não era um abolicionista; tinha escravos e atacou a escravidão por questões econômicas. Sua opinião quanto a situação dos negros só mudou quando deu início, na década de 1750, a uma organização filantrópica que abria escolas para crianças negras nas colônias americanas. Em 1763, ele escreveu uma carta reflexiva em que reconhecia seus erros e preconceitos. Tornou-se um abolicionista convicto, ainda assim não consegui incluir os negros entre os cidadãos da América livre.

Isaacson revela ainda como Franklin elaborou a falsa proposta que ele fez a Academia Real de Bruxelas para que estudasse as causas e as curas do peido. Simulando seriedade científica e ironia, que era uma de suas artimanhas preferidas, ele sugeriu até a invenção de um “perfume para peido”. Embora tenha imprimido a farsa, Franklin nunca distribui a obra ao público, tendo o feito somente para amigos.

Em Benjamin Franklin – Uma vida americana um dos homens mais influentes do século XVIII ganhou uma biografia a altura de sua importância na história da civilização ocidental. Walter Isaacson escreveu uma obra digna de Benjamin Franklin, abrangente e reflexiva, expondo o homem, o cientista e o político, seus erros e acertos.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra no site da Companhia das Letras.
Sobre o autor, acesse a página da Simon & Schuster

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