Genealogia levada a sério: Entrevista com Nélio Schmidt

Nelio Schmidt

Dando seguimento a nossa série de entrevistas, hoje vamos falar com o amigo Nélio Schmidt que é o fundador e diretor do GenealogiaRS

Genealogia não se faz sozinho e o grupo de genealogistas gaúchos leva isso ao pé da letra. O GenealogiaRS foi o responsável, por exemplo, pelo  livro Famílias de Origem Alemã no Rio Grande do Sulcom a genealogia de 100 famílias alemãs estabelecidas no Rio Grande do Sul desde o século 19. A obra reuniu mais de 50 genealogistas e foi lançada no Museu Visconde de São Leopoldo. Para Schmidt, o livro foi “um marco literário importante em nossa região, tendo em vista os seus detalhes conceptivos, o seu conteúdo e a sua finalidade”.

Rodrigo Trespach – Como surgiu e como funciona o GenealogiaRS?

Nélio Schmidt – No início de 2011, eu voltei a fazer pesquisas sobre a minha família Schmidt. Procurei o INGERS, mas infelizmente já estava de portas fechadas. Então, comecei a procurar pela internet e me cadastrei no Fórum da Imigração Alemã de SC, onde logo algumas pessoas passaram a me ajudar. Mas o primeiro grande passo, foi quando estabeleci contato com o pesquisador Pedro Almiro Fauth – que faleceu em 2014 – por indicação de uma pesquisadora de Curitiba, a Luci Vasem. Ele se prontificou a me ajudar pois era detentor do maior banco de dados de imigrantes alemães que se fixaram na região do Vale do Sinos e arredores. Destes nossos encontros surgiu a ideia de se procurar outros pesquisadores que estavam meio desgarrados por causa do fechamento do INGERS. Assim, no dia 14 de maio de 2011 aconteceu o primeiro encontro em Novo Hamburgo, de forma bem informal, entre quatorze pessoas, ávidas em tocar as suas pesquisas.

Rodrigo Trespach – O INGERS – Instituto de Genealogia do RS foi durante muito tempo referência em genealogia no RS. O GenealogiaRS assumiu esse lugar, mas com uma nova formatação e uma ideia de genealogia diferente. Como você vê a genealogia hoje em comparação ao que ela foi no passado, com o trabalho do INGERS, por exemplo?

Nélio Schmidt – Sim, o fechamento do INGERS foi uma pena. Aliás, da mesma forma que outras organizações semelhantes, terminaram sucumbindo, por uma série de problemas, que vão desde a gestão, interesse dos associados e as dificuldades inerentes de cada uma. Não é nada fácil, nos dias atuais, manter uma associação ou organização semelhante, dentro da forma legal, por uma série de questões legais exigidas pelo governo. Nos primeiros encontros, é verdade de que todos eram favoráveis de que se reavivasse o INGERS, mas por algumas questões este plano não decolou. Desde o nosso primeiro encontro, as atividades foram coordenadas por mim, convidando e divulgando as atividades.

Entre os integrantes que se reuniam, surgiu a ideia de que se fundasse uma nova associação, a ideia foi proposta, mas a não foi simpática a alguns colegas. Diante disto, e como havia a necessidade de se continuar encontrando e outras articulações passara a surgir, como digitalizações de livros eclesiásticos, levantamentos em cemitérios e recebimentos de visitantes da Alemanha, incentivado por alguns colegas mais próximos, concebi a criação de uma organização empresarial, legalmente constituída e registrada como uma microempresa prestadora de serviços e de representações. Uma associação fica engessada por uma série de coisas, inerentes, a este tipo de organização. Uma microempresa, focada no bem-conviver de todos, procurando atender os anseios da maioria, torna-se muito mais eclética em seu funcionamento, ou seja, as coisas fluem muito melhor e mais rápidas, tornando toda a questão administrativa e operacional muito mais dinâmica.

Assim, nasceu o GenealogiaRS – Pesquisas Teuto-Brasileiras Ltda, tendo como sócios eu e meu filho, que está desde o início devidamente registrada em todas as esferas, sejam municipais, estaduais e federais, possuindo conta bancária e operações de cobranças. Ainda antes foi construído um site para divulgar as atividades, prestar orientações sobre pesquisas, oferecimentos de vendas de serviços, mídias com registros eclesiásticos, e representações de livros de pesquisas.

Rodrigo Trespach – E o trabalho em relação ao INGERS…

Nélio Schmidt – Não tenho como comparar um antes ou depois, pois não cheguei a frequentar o INGRS, mas pelos comentários que tenho recebido, algumas coisas são diferentes, outras nem tanto. É interessante observar, que os tempos também são outros agora, e que o GenealogiaRS fez a opção de focar somente as pesquisas da etnia germânica, não se preocupando com a italiana, espanhola e açoriana, que era um grande foco daquela associação.

GenealogiaRS

Rodrigo Trespach  – As novas tecnologias (internet, scanners, softwares e etc.) permitiram que a genealogia fosse possível também para pessoas sem experiência na área. Isso tem contribuído para popularização da pesquisa genealógica?

Nélio Schmidt – Sim, sem dúvida. Estas ferramentas modernas propiciaram um grande avanço e melhorias nas possibilidades de buscas para os novos pesquisadores. Não obstante, o princípio básico permanece o mesmo, ou seja, a busca e o estudo da história. Tanto lá na Europa como aqui, aumentaram muitos o número de pessoas que estão pesquisando e a internet foi fundamental para o andamento deste fluxo de duas vias, que tanto tem contribuído aos interessados.

Rodrigo Trespach – Até bem pouco tempo, genealogia parecia uma ciência de pessoas idosas que a utilizavam como hobby. Mas hoje temos visto que muitos jovens tem sido ativos na pesquisa da história familiar, não raro lançando livros e criando sites que disponibilizam suas pesquisas. Qual você acredita ser o motivo, as novas tecnologias têm influência direta e fundamental nesse processo?

Nélio Schmidt –  Até hoje eu estranho muito, quando ouço a palavra “Confrade”. Vejo nesta palavra, uma cena de várias pessoas de idade sentados ao redor de uma mesa, com pouco espaço para os jovens. E este conceito de confraria não vingou dentro do GenealogiaRS, pois desde o princípio as portas estavam abertas para os jovens, para os iniciantes e principalmente para os que não se encaixava entres os “doutores de alto saber genealógico”, mas, bem pelo contrário, houve incentivo para que participassem e aos “doutos” colaborassem ensinando e repassando. A informática e os atuais meios de comunicação, certamente ajudaram muito a abrir as portas, que os “confrades mantinha a sete chaves”. E este foi o grande diferencial dentro do GenealogiaRS.

Famílias de Origem Alemã no Rio Grande do Sul

Rodrigo Trespach – Falando em livro, o primeiro volume do livro Famílias de Origem Alemã no Rio Grande do Sul foi um sucesso. Conte-nos um pouco como foi possível realizar este trabalho e como anda o trabalho para o segundo volume.

Nélio Schmidt – Sobre o nosso livro, ou melhor, a série que se está dando continuidade, foi algo muito especial e que nos surpreendeu positivamente. Dos 3500 exemplares do primeiro volume, as vendas foram muito boas.
Assim como foi muito boa a receptividade junto às escolas, bibliotecas e museus, nos quais foram distribuídos gratuitamente mais de quatrocentos volumes, graças a doação feita por três empresas parceiras. O formato em foi concebido este projeto, fez a grande diferença. Juntamos vários colegas que entraram como autores e colaboraram com a genealogia de 100 famílias. Tudo custeado num formato de cooperativismo, tornaram os gastos bem baixos e a possibilidade real.

Quanto ao segundo volume, está em plena formatação com as 100 famílias já completas. O lançamento será no dia 14 de maio de 2016, quando o GenealogiaRS estará fazendo cinco anos. O terceiro volume, que já possui inscrições, será para o primeiro semestre de 2017.

Rodrigo Trespach – O GenealogiaRS tem trabalhado na digitalização do acervo das paróquias e no levantamento de dados dos cemitérios das colônias alemãs do RS. Como está o andamento deste projeto? Qual o objetivo?

Nélio Schmidt – Nos últimos dois anos deixamos de lados os levantamentos cemiteriais e nos focamos na digitalização de livros eclesiásticos. Esta iniciativa está a pleno andamento, com boas parcerias, uma das quais foi com o CAPEF – Centro de Apoio a Pesquisas e Encontros Familiares de Teutônia, associação com a qual já a alguns anos mantemos uma excelente parceria. Este é um trabalho que iniciamos a cinco anos atrás, e agora muito mais ainda com o novo equipamento que desenvolvemos, tornou a tarefa mais profissional. O objetivo é salvaguardar o maior número possível de livros, das paróquias que nos derem acesso aos seus livros. As próprias paróquias são beneficiadas, pois recebem sem nenhum custo cópias das mídias para uso e com isso não necessitando mais manusear os livros, já tão fragilizados.

Rodrigo Trespach – Deixe uma mensagem ou dica para quem quer começar sua pesquisa familiar.

Nélio Schmidt – Em nosso site www.genealogiars.com existe um link – Orientações sobre como pesquisar e perguntar – numa tentativa de incentivar esta salutar e nobre atividade, mas de forma sucinta, reforço as seguintes dicas:

• Pesquisas genealógica não se faz sozinho, procure os seus familiares e amigos, e as organizações.
• Não pare, mesmo quando parece que nada mais existe a ser pesquisado.
• Lembre-se, os seus antepassados deixaram um legado, sejam qual foi a sua atividade, todos foram importantes no contexto histórico, social e atividade laboral. Por isso nós que hoje estamos aqui, não custa nada, eles serem lembrados e admirados pelos seus feitos.
• Escreva ou grave tudo o que os mais idosos falam, guarde fotografias e documentos, visite os cemitérios para ver o estado das lápides, limpe-as, faça manutenção periódica e não as abandone.
• Procure por ajuda e peças informações ao que já pesquisam a mais tempo.

Quem quiser saber mais sobre o trabalho do GenealogiaRS ou sobre genealogia, pode contatar o Nélio pelo e-mail nelioschmidt@gmail.com, o site http://www.genealogiars.com ou a página do grupo no facebook https://www.facebook.com/groups/GenealogiaRS

Rodrigo Trespach

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!