Reinheitsgebot, 500 anos da Lei de Pureza da Cerveja

A Reinheitsgebot, também conhecida como a Lei de Pureza da cerveja alemã, foi criada em 23 de abril de 1516 pelo duque Guilherme IV da Baviera. Ela foi inspirada em uma lei criada em 1487 de Munique, que depois foi adotada em toda a Baviera, na data que ficou famosa. Com a Unificação da Alemanha em 1871, a Baviera forçou a adoção da lei por todo o país.

Por Henrique Boaventura
Cervejeiro, professor e juiz do Beer Judge Certification Program (BJCP)

Oktoberfestmuseum

A Lei de Pureza estabelecia que somente três ingredientes poderiam ser utilizados para a produção da cerveja: água, cevada, lúpulo

Nesta época ainda não se tinha conhecimento sobre o processo de fermentação e se acreditava que a transformação do mosto (a cerveja ainda em estado bruto) era uma intervenção divina.

Ao contrário do que se imagina, a Lei de Pureza não foi totalmente responsável pela qualidade e proteção contra as falsificações da cerveja. Isso foi um efeito secundário da limitação de ingredientes, mas está ligado ao alto nível de conhecimento dos cervejeiros, ao extremo cuidado e a técnica aplicada no produto final.

Essa limitação de ingredientes eliminou um grande problema: a falta de controle do que era adicionado à cerveja. Antes do uso do lúpulo, o gruit era o conservante mais comumente utilizado. Era feito à base de ervas que adicionavam sabor e não permitia que bactérias ou outros micro-organismos estragassem a cerveja. Cada cervejeiro tinha uma “receita” de gruit, que em alguns casos continha ervas nocivas a saúde.

O principal motivo para a criação da Lei de Pureza foi econômico, pois ao estabelecer quenão poderia ser usado trigo para fazer cerveja, garantia um preço justo tanto para ela quando para o pão.

A Lei de Pureza tinha até mesmo um significado religioso, pois ao instituir o lúpulo como conservante, ela proibia o uso de ervas – o gruit – que eram usadas em rituais pagãos.

Ao longo dos anos, a Lei de Pureza teve pequenas alterações, permitindo que fossem utilizados outros ingredientes como coentro, louro, trigo e outros grãos maltados, mas apenas para cervejas de alta fermentação (as ale). Mais recentemente, a levedura também foi adicionada ao texto como um dos ingredientes permitidos para a produção de cerveja.

Reinheitsgebot continua em vigor e permite que cervejas que levem outros ingredientes sejam vendidas. Mas estas não podem ser chamadas de cerveja, mas de “bebida fermentada a base de malte”.

Apesar de ser conhecida como a mais antiga lei de defesa do consumidor, ela não era a mais antiga nem mesmo na Alemanha. Séculos antes, outros países já tinham leis que estabeleciam controle sobre o produto vendido, como na Índia do século XVIII a.C., onde o Código de Massú previa pena de multa e punição para os comerciantes que entregassem um produto de baixa qualidade ou adulterado.

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O texto original da Reinheitsgebot

Proclamamos com este decreto, por Autoridade de nossa Província, que no Ducado da Baviera, bem como no país, nas cidades e nos mercados, as seguintes regras se aplicam à venda da cerveja:

Do dia de São Miguel (29 de Setembro) ao dia de São Jorge (23 de abril), o preço para um Litro ou um Copo, não pode exceder o valor de Munique do pfennig.

Do dia de São Jorge (23 de Abril) ao dia de São Miguel (29 de setembro), o litro [nota: uma unidade equivalente ao atual litro] não será vendido por mais de dois pfennig do mesmo valor, e o copo não mais de três Heller (Heller geralmente é meio pfennig).

Se isto não for cumprido, a punição indicada abaixo será administrada.

Se todo cervejeiro tiver outra cerveja, que não a cerveja do verão, não deve vendê-la por mais de um pfennig por Litro.

Além disso, nós desejamos enfatizar que no futuro em todas as cidades, nos mercados e no país, os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser lúpulo, malte e água.

Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações, será punido pelas autoridades da corte que confiscarão tais barris de cerveja, sem falha.

Se, entretanto, um comerciante no país, na cidade ou nos mercados comprar dois ou três barris da cerveja (que contém 60 litros) para revendê-los ao vendedor comum, apenas para este será permitido acrescentar mais um Heller por copo, do que o mencionado acima. Além disso, deverá acrescentar um imposto e aumentos subsequentes ao preço da cevada (considerando também que os tempos da colheita diferem, devido à localização das plantações).

Nós, o Ducado da Baviera, teremos o direito de fazer apreensões para o bem de todos os interessados.

Texto elaborado por Henrique Boaventura
Cervejeiro, professor e juiz do Beer Judge Certification Program (BJCP)

Se você deseja saber mais sobre a cerveja ou visitar o museu da cerveja e da Oktoberfest de Munique, acesse Bier und Oktoberfest Museum 

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