Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro (1868-88)

Flores, votos e balas

Livro da socióloga da USP se detém no movimento abolicionista brasileiro para apresentar um novo olhar da historiografia sobre a Abolição, o da presença ativa dos movimentos sociais.

Em Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro (1868-88) (Companhia das Letras, 2015), a doutora Angela Alonso, professora do Departamento de Sociologia da USP, refaz o trajeto do movimento abolicionista brasileiro em sua luta pela abolição dos escravos negros durante as três décadas anteriores ao 13 de maio de 1888.

A campanha pela abolição teve inicio em 1868, com a queda do ministério liderado por Zacarias Gois, e foi ampliado pela modernização promovida pelo gabinete do barão de Rio Branco que, a partir de 1871, deu inicio a uma pauta modernizadora – e aliada ao discurso abolicionista.

Discurso que era estruturado em torno de três questões básicas: o direito natural (a igualdade entre todos os seres humanos); a compaixão (que denunciava as violências cometidas contra os escravos); e o progresso (que defendia a ideia que o Brasil não seria uma nação moderna enquanto não se livrasse do trabalho escravo – o que já vinha ocorrendo em todo os lugares do mundo desde a década de 1820).

Os inimigos do abolicionismo, por sua vez, seguiam o discurso de que a abolição teria que ficar para um futuro distante; tudo para evitar a desordem e a falência da lavoura (a base da economia brasileira).

Com pesquisa baseada em ampla documentação primária, panfletos, manifestos, discursos, obras literárias e peças de teatro de abolicionistas e anti-abolicionistas, Alonso mostra que não havia entre os principais líderes abolicionistas uma preferência por um ou outro instrumento de luta. André Rebouças, José do Patrocínio e Joaquim Nabuco, os personagens mais importantes do movimento, souberam lançar mão de todos os instrumentos possíveis.

O movimento lutava, assim, em todas as frentes, com diversos “estilos de ativismo”: Andre Rebouças (usando de lobby, articulação entre o espaço público e o político), Abílio César Borges (por meio do associativismo, cerimônias cívicas e o “método bumerangue”), Luís Gama (com ativismo judicial), José do Patrocínio (com ações parlamentares e candidaturas eleitorais) e Antônio Bento (por meio de fugas orientadas). “Variados intérpretes de um só repertório”, escreveu a autora.

Alonso demonstra também como os escravistas usaram de artimanhas para manter a escravidão mesmo quando leis favoreciam os abolicionistas. Duas semanas depois de promulgada, a Lei Saraiva-Cotegipe (de 1885), que libertava os escravos com mais de 60 anos, foi esvaziada com o decreto de regulamentação que fixou a matrícula de escravos entre março de 1886 e março de 1887. Como a lei só seria implementada depois do registro, foi postergado o início da vigência em mais de um ano.

Flores, votos e balas: o movimento abolicionista brasileiro (1868-88) mostra que nem d. Pedro II nem a princesa Isabel tiveram papel determinante na Abolição. A liberdade dos escravos não foi obra da coroa (nem de uma elite intelectual), mas uma conquista dos negros, conquistada por meio de uma campanha duríssima, conduzida por líderes como Gama, Rebouças e Patrocínio.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra no site da Companhia das Letras.

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