Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo

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Historiadora francesa escreveu de forma crítica a biografia do pai da psicanálise, removendo mitos, lendas e rumores sobre a vida e a obra de Sigmund Freud.

Autora de mais de dez livros, entre eles A Família em Desordem e Dicionário de Psicanálise, ambos publicados pela Zahar, a historiadora e psicanalista francesa Elisabeth Roudinesco se dispôs a expor de maneira crítica a vida de Sigmund Freud (1856-1939). O resultado é Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo (Zahar, 2016).

Com origens romenas e judias, a professora da École Pratique des Hautes Étudesem Paris, teve acesso a uma série de documentos não explorados – saídos de arquivos há pouco abertos – sobre aquele que é conhecido como pai da psicanálise. Encoberto por comentários, fantasias, lendas e rumores, o Freud humano permaneceu escondido por décadas sobre o mito em torno de sua vida e obra.

Após décadas de panegíricos, hostilidades, trabalhos eruditos, interpretações inovadoras e declarações injustas […] é grande a dificuldade de saber quem era realmente Freud.

Autor de cerca de 20 livros e mais de 300 artigos, Freud deixou ainda milhares de anotações, rascunhos, agendas e aproximadamente 20 mil cartas. Seus trabalhos foram publicados em mais de cem línguas e várias dezenas de biografias foram escritas, de Fritz Wittels (1924) a Peter Gay (1988), passando por Ernest Jones, Henri Ellenberger e até mesmo Emilio Rodrigué, o primeiro biografo latino-americano do psicanalista austríaco. 

Freud já foi tema de filmes e séries de TV, caricaturas, quadrinhos, romances clássicos, pornográficos ou policiais. Já foi retratado como ganancioso, demoníaco, fascista, misógino, incestuoso, mentiroso e falsificador. Cada passo de sua vida e cada uma de suas obras já foi estudada e interpretada de múltiplas maneiras. Cada escola psicanalítica e país tem seu próprio Freud. Mas afinal, quem era verdadeiramente Freud?

Para Roudinesco, ele esteve longe dos rótulos que lhe foram atribuídos. Ou pelo menos, foi mais complexo e menos caricato, menos super-humano e mais humano. Para ela, Freud era

Um conservador esclarecido que busca libertar o sexo para melhor controlá-lo, um decifrador de enigmas, um observador atento da espécie animal, um amigo das mulheres, um estoico fanático por antiguidades, um ‘desilusionista’ do imaginário, um herdeiro do romantismo alemão, um dinamitador das certezas das consciências.

Assim como também era “um judeu vienense, desconstrutor do judaísmo e das identidades comunitárias” e um admirador dos clássicos, como o teatro shakespeariano.

Roudinesco revela em Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo um Freud da vida privada e pública, um Freud vivendo o amor e as amizades, o esgotamento, as tragédias de guerra e o exílio. Um Freud que não conseguiu perceber o perigo do nazismo para seu país, mas que temia, acertadamente, que os assentamentos hebreus na Palestina terminariam por opor árabes antissemitas e judeus racistas. Um Freud dentro do contexto histórico.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra, acesse o site da Zahar.

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