A Religião de Jacobina

A religião de Jacobina

Livro do historiador gaúcho Martin Dreher dá vez e voz aos vencidos e apresenta um novo olhar para a história do movimento Mucker: o pietismo alemão do século 18

O historiador Leandro Karnal, que escreve sobre o livro, afirma que “Martin Dreher penetrou fundo no pantanoso mundo da memória sobre os Mucker!” De fato, Martin Norberto Dreher é um dos mais destacados e prolíficos historiadores da Imigração Alemã no Brasil.

Sua vasta e importante bibliografia têm início com a publicação da tese Kirche und Deutschtum in der Entwicklung der Evangelischen Kirche Lutherischen Bekenntnisses in Brasilien (de 1978), com duas edições brasileiras sob o título Igreja e Germanidade e atingem expressão maior nos livros Imigração Alemã no Rio Grande do Sul – Recortes; Hermann Gottlieb DohmsTextos Escolhidos; Degredados de Mecklenburg-Schwerin e os Primórdios da Imigração Alemã no Brasil; Wilhelm Rotermund, Seu Tempo – Suas Obras; 190 Anos de Imigração Alemã no Rio Grande do Sul: Esquecimentos e Lembranças, todos com publicados pela Oikos, de São Leopoldo, e De Luder a Lutero: uma biografia, publicado pela Sinodal, também de São Leopoldo.

Em A Religião de Jacobina (Oikos, 2017), Dreher apresenta fontes inéditas e um novo olhar sobre os fatos do episódio mais obscuro do período imigratório alemão no Rio Grade do Sul: o conflito religioso conhecido como “Mucker”. O tema já havia sido trabalhado no passado por historiadores como Janaína Amado, Leopoldo Petry, Moacyr Domingos e o Pe. A. Schupp, entre outros, mas Dreher dá voz aos vencidos e tenta entender o “movimento messiânico” através do pietismo alemão do século XVIII, fazendo uma análise do comportamento das famílias envolvidas (uma genealogia familiar e religiosa).

Entre 1869 e 1874, o Vale do Rio dos Sinos foi palco de um movimento religioso que envolveu, exclusivamente, os imigrantes alemães e seus descendentes. Os “Mucker”, como eram chamados os adeptos da “seita” de Jacobina Maurer e João Jorge Maurer, realizavam culto doméstico, entoavam cânticos e orações formuladas pela casal Maurer. Também faziam a própria interpretação da Bíblia segundo orientação de sua líder espiritual, que também promovia curas, o que provocou a ira das autoridades religiosas locais (católicas e luteranas) e também do próprio governo da província.

O movimento teve um fim violento. O grupo de 150 fiéis seguidores de Jacobina foi massacrado em 1874 no morro do Ferrabrás, em Sapiranga, RS, e os membros e simpatizantes restantes foram perseguidos por décadas. Cerca de mil pessoas se envolveram com o movimento; em se considerando que a colônia alemã tinha cerca de 14 mil membros, o número de muckers é mais do que expressivo.

A Religião de Jacobina é leitura obrigatória não apenas pelos historiadores da Imigração Alemã no Brasil, mas também para os interessados nos temas religião (através da multiplicidade das expressões religiosas entre os imigrantes) e antropologia (o comportamento e o meio social em que estavam os colonos inseridos). De quebra, interessa aos genealogistas, como exemplo do uso das relações familiares como meio de entendimento de determinado grupo humano no espaço-tempo.

Por Rodrigo Trespach

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