Estranhos à nossa porta

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Livro do sociólogo morto em janeiro trata de uma das maiores crises humanitárias da história: a crise dos refugiados.

Zygmunt Bauman tornou-se símbolo da modernidade, ou melhor, o grande pensador da modernidade. Foi que ele quem melhor definiu o conceito de pós-modernidade, sendo também o criador do conceito de “liquidez” para o mundo moderno. Quando morreu, na Inglaterra, aos 91 anos de idade, em janeiro desse ano, deixou um incrível legado: uma vasta e importantíssima produção sobre a sociedade.

No Brasil, a editora Zahar publicou 38 livros do sociólogo polonês. O último deles, Estranhos à nossa porta (2017), foi lançado poucos dias após a morte de Bauman.

Refletindo e se utilizando de filósofos e historiadores que trabalharam sociedade e moral, como Eric Hobsbawm, Immanuel Kant, Hannah Arendt, William McNeill, Kevin Kenny, Kwane A. Appiah, entre outros, Bauman aponta as causas do preconceito, da indiferença e do ódio com os refugiados.

“A ignorância quanto a como proceder, como enfrentar uma situação que não produzimos nem controlamos, é uma importante causa de ansiedade e medo”.

A migração em massa na história da humanidade não é um fenômeno recente. Desde que o Homo Sapiens deixou a África 100 mil anos atrás o homem tornou-se fundamentalmente migrante. Mas a coexistência humana sofreu alterações, o Sapiens tornou-se sedentário, aumentado a densidade “ao mesmo tempo física e espiritual”, definiu Bauman. As últimas grande migrações intercontinentais, dos séculos 16 ao 19, criaram países e moldaram o modo de vida humano.

Nos últimos dois séculos, nossos ancestrais (con)viviam com pessoas que haviam conhecido durante a maior parte de suas vidas. Poucas pessoas tinham contato com o mundo fora de seu meio. Tudo que vestiam ou compartilhavam em seu cotidiano, eram confeccionados por pessoas que eles, de fato, conheciam ou tinham mantido algum tipo de contato.

As nova tecnologias, no entanto, catapultaram o homem para uma geração capaz de se comunicar e mudar em uma velocidade nunca antes imaginada. Impulsionados e pressionados, como antes, por questões econômicas, políticas, sociais e religiosas, os homens migram, procuram refúgio.

Com a onda migratória, estranhos se aproximaram e o “grande desconhecido” está agora à porta de entrada dos países economicamente poderosos – a Europa, principalmente. Insegurança, medo, pânico e ódio transformaram-se em sentimentos cotidianos entre a população receptora e há um rápido processo de desumanização dos recém-chegados ocorrendo. As políticas ultranacionalistas que marcaram o século XX voltaram a aparecer depois de um sono entorpecido. Os “localmente inúteis” ou “intoleráveis” serão logo os “indesejáveis” e “irritantes”.

Estranhos à nossa porta é leitura obrigatória para entender os motivos da migração em massa (atual) e como o fenômeno se transformou em uma crise de “pânico moral”, política e social. A saída? Para Bauman, construir pontes em vez de muros. Convenhamos, uma tarefa nada fácil para uma sociedade individualista.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra, acesse o site da Zahar.

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