São Domingos das Torres

Grupo de historiadores torrenses se mobiliza em ação para preservar o nome da igreja de “São Domingos das Torres”, restaurada e reinaugurada no último dia 8 de abril.

Por Diderô Carlos Lopes
Pesquisador do Centro de Estudos Históricos de Torres e Região

Reproduzo, a seguir, uma das respostas que encontrei para a pergunta “o que é preservar? ” “Todos os bens de natureza material e imaterial, de interesse cultural ou ambiental, que possuam significado histórico, cultural ou sentimental, e que sejam capazes, no presente ou no futuro, de contribuir para a compreensão da identidade cultural da sociedade que o produziu”(1) .

As frases foram sublinhadas para se destacar o objeto de nosso interesse imediato, na tentativa de destacar o significado associado ao nome da igreja de São Domingos das Torres (a igreja e a empresa responsável pelo tombamento usam apenas  “Igreja de São Domingos”, sem o “das Torres”).

São Domingos das Torres

Antes da capela inicial de 1826, o acidente geográfico das falésias, chamadas de Torres, já se encontrava na mesma localização de hoje. Portanto, trata-se de uma precedência imemorial. Na mesma linha, os humanos são todos modernos, se a este fato imemorial forem comparados.

Avançando no significado, encontra-se em um mapa das tropas de linha, que guarneciam a Capitania do Rio Grande de São Pedro, datado de 1809, o nome do “Registro das Torres” com um sargento e três soldados. Prosseguindo, em uma correspondência emitida no início de 1814, pelo Alferes Manoel Ferreira Porto, relatando a passagem de uma embarcação consta, logo no início, na abertura do documento, “Guarda das Torres”, e no final, o nome do comandante e sua assinatura. Portanto, permeia todos esses registros o enorme significado das Torres, enfatizando a referência de contexto de época.

Imponentes, altivas, tranquilas, em alguns momentos, quando o “mar grosso” lhe dava tréguas, no incessante trabalho de resistir sempre, mas ciente de sua majestade única, no oceano de areias, desde Laguna até o extremo sul meridional.

Quebravam, pela sua grandiosidade, a monotonia desse litoral, e serviam de referência topográfica para os viajantes, fossem eles do mar ou da terra. Impossível não as perceber! São como se fossem a “assinatura do local”.

Debret Vista dos fundos da Capela, a partir do topo do Morro do Farol, início do século XIX.

Ao contexto natural e ao histórico de posto militar das Torres, se incorporou, por volta de 1826, a “Capella Curada de São Domingos das Torres”, onde os religiosos antes de serem curadores eram capelães, sendo o primeiro deles Joaquim Serrano (1826-1831).

O nome escolhido para a “capella”, é um legado que os pioneiros nos deixaram como memória. Homenageavam tanto um santo da igreja católica, quanto a representatividade simbólica existente no contexto de época das Torres.
Ao reproduzirmos o nome da igreja, hoje, exatamente como foi grafado na sua fundação e posteriormente em 1837, quando foi promovida a freguesia, estaremos sim, muito próximos da “compreensão da identidade cultural da sociedade que o produziu” originalmente.

Igreja São Domingos. Foto: Site da Prefeitura Municipal de Torres.

Ao ser valorizado apenas por um dos aspectos, ou seja, priorizando o santo padroeiro da igreja católica, não está se preservando a memória, cujo valor em nossa cultura deve ser incorporado e/ou preservado. O padroeiro da igreja de São Domingos das Torres deve sim ser lembrado, principalmente no mês de agosto, quando é celebrada a sua festa anual.

O significado histórico cultural associado ao nome da igreja de São Domingos das Torres, é de todos: comunidade, governos e entes religiosos. Neste entendimento a preservação integral do nome também é responsabilidade de todos, constituindo assim o legado que deixaremos para as gerações que nos sucederem.

Desta forma, convido a todos, indistintamente, para falar e escrever, em todas as produções, exatamente “São Domingos das Torres”. Se assim o fizermos, estaremos entendendo o contexto de época em que foi criada, estimulando preservar a história, muito próxima daquela que foi produzida pelos pioneiros. Qualquer coisa diferente disto, estaremos em débito com os pioneiros, com nós mesmos, e ainda, com a nossa memória.

Neste caso de memória imaterial, o restauro só será possível com a prática diária da afirmação deste valor, gerando como expectativa, que em algum momento futuro, possa ser incorporado com atitude.

Por Diderô Carlos Lopes
Pesquisador do Centro de Estudos Históricos de Torres e Região
(Contato: diderot.cl@gmail.com)

Referência
(1) SPISSO, N. G. E. B. Patrimônio histórico: como e por que preservar. 3ª. ed. Bauru: Crea-SP – Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo, 2008, p.15.

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