A cura pelo espírito

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Mestre na narrativa biográfica, em A cura pelo espírito Stefan Zweig apresenta o perfil de três figuras históricas, complexas e polêmicas.

A editora carioca Zahar acaba de lançar mais uma obra da coleção Stefan Zweig: A cura pelo espírito. A coletânea tem como coordenador Alberto Dines, diretor da Casa Stefan Zweig e autoridade internacional no escritor austríaco.

Publicado originalmente em 1931 com o título “Die Heilung durch den Geist”, A cura pelo espírito é um resenha biográfica de três personalidades históricas vinculadas ao pioneirismo da procura do entendimento da psiquê humana.

Depois de rápido e efêmero sucesso, Franz Anton Mesmer (1734-1815) seus imãs e o “magnetismo animal” transformaram-se em chacota no começo do século 19, ideia que persiste até hoje. O mesmerismo passou a ser sinônimo de charlatanismo e pseudociência. O que Stefan Zweig descortina, no entanto, é um homem rico e realmente preocupado com a cura por meio da hipnose, ainda que, infelizmente para ele, alheio ao real significado da sua descoberta.

“Há sempre uma tragédia espiritual quando uma descoberta é mais genial do que seu próprio descobridor”.

A norte-americana Mari Baker Eddy (1821-1910), fundadora da “Ciência Cristã”, é o segundo perfil traçado por Zweig. Eddy transformou a cura pela êxtase e fé em um dos maiores negócios da América e do mundo durante as décadas finais do século 19 e começo do século XX. A Ciência Cristã simplesmente pregava a inexistência da doença e até da própria morte. Ambas só existiriam em pessoas que não acreditassem no poder da fé.

Tendo construído um império onde outros falharam, a frágil e doente, porém determinada, Mari Baker Eddy é criadora de uma doutrina descrita por Zweig como “de cura intelectualmente esdrúxula”, “diletante e frágil em termos de lógica”. Afirmava Eddy que

“O homem é divino, Deus é o Bem, portanto não pode existir nada de mau, e todo o Mal, a doença, a velhice e a morte não são realidade, e sim aparência que engana e quem compreendeu isso não pode ser acometido por nenhuma doença nem torturado por nenhuma dor”.

O último biografado é um amigo pessoal de Zweig, Herr Professor Sigmund Freud (1856-1939), o austríaco – e judeu, como Zweig – considerado o pai da psicanálise. Motivo pelo qual a edição da Zahar de A cura pelo espírito traz ainda mais de trinta anos de correspondências inéditas entre Zweig e Freud e um posfácio de Alberto Dines sobre o relacionamento de ambos.

A cura pelo espírito é o fruto do apaixonado interesse de Zweig por biografias, especialmente de perfis psicológicos complexos. Antes de escrever o livro ele já havia publicado biografias de Balzac, Dickens, Dostoiévski, Rolland, Nietzsche e Fouché, entre outros, e na sequência concluiria sua grande e arrebatadora biografia, a da rainha dos franceses Maria Antonieta.

Por isso, longe da narrativa biográfica clássica, linear, Zweig se detém ao entendimento da personalidade e do espírito humano. Natural que decorra daí um texto fascinante, sensível e singular, como toda a obra de Stefan Zweig.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra, acesse o site da Zahar.

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