Continente Selvagem

Livro do premiado historiador britânico narra os horrores vividos pela Europa após o final da Segunda Guerra Mundial.

Quando os canhões silenciaram em 1945,  o continente europeu estava devastado por seis anos de lutas sangrentas e massacres étnicos nunca vistos antes na História da humanidade. Ao final daquele ano, o último da  Segunda Guerra Mundial, boa parte das pessoas no mundo acreditou que o mau parecia ter sido derrotado. Mas, apesar de tudo o que ocorrera, 1945 não foi o fim.

Mesmo com a descoberta dos campos de extermínio e os horrores do Holocausto, mesmo tendo que recomeçar tudo do zero, reconstruir cidades inteiras, reorganizar fronteiras e alimentar milhões de bocas famintas, a Europa viveu tempos sombrios; com novas ondas de antissemitismo, reabertura de campos de concentração, perseguição e execução de colaboradores dos nazistas, fome e mais destruição motivada por disputas políticas internas em países com a economia arrasada pelo conflito militar e/ou ocupação nazista. Quase todos os países sofreram com guerras civis, em alguns casos, como no leste, elas se arrastariam por décadas e só seriam sufocadas pela força das armas e dos tanques das grandes potências – a URSS, em especial.

“Odiar o rival se tornou  algo inteiramente natural”.

Os detalhes e as problematizações de um período menos estudado e tão sombrio quanto a própria guerra, estão em  Continente selvagem: O caos na Europa depois da Segunda Guerra Mundial (Zahar, 2017), do escritor e historiador londrino Keith Lowe. Lowe, que estudou Literatura Inglesa na Universidade de Manchestertambém é autor de Inferno: The Devastation of Hamburg, 1943, sobre a devastação de Hamburgo, na Alemanha. Com Continente selvagem o inglês venceu o prêmio PEN Hessell-Tiltman, em 2013.

Continente selvagem é o resultado de uma extensa pesquisa de cinco anos levada a cabo por Lowe em arquivos de diversos países europeus. Baseado em documentos originais e vasta bibliografia especializada, o livro cobre os anos de 1944 a 1949, da preparação para a ocupação da Alemanha, já no estágio final do conflito, ao início da Guerra Fria, com o acirramento entre os dois blocos oponentes (capitalistas versus comunistas).

“Após a desolação de regiões inteiras; após a matança de mais de 35 milhões de pessoas; após incontáveis massacres em nome de preconceitos contra nacionalidade, raça, religião, classe ou pessoal, praticamente todas as pessoas do continente sofreram algum tipo de perda ou injustiça”.

Dividido em quatro partes, o legado da guerra, vingança, limpeza étnica e guerra civil, Continente selvagem conta como muito da violência permaneceu viva, mesmo após a  rendição nazista e a libertação dos países ocupados, e o Velho Mundo viveu um “mergulho na anarquia”.

Os nacionalistas e os comunistas mantiveram o mundo em estado de alerta durante muitos anos depois do fim do conflito e a polarização política pós guerra alcançou o globo.

“A Segunda Guerra Mundial foi como um grande navio petroleiro singrando as águas da Europa: ele tinha tal ímpeto que, embora os motores possam ter sido revertidos em maio de 1945, seu curso turbulento só foi finalmente interrompido muitos anos mais tarde”.

Tal como os trabalhos de Ian Kershaw, Lowe alia uma visão acurada com uma narrativa detalhista e ao mesmo tempo envolvente. Consegue descrever, sem paixões, a criação dos mitos nacionais em torno do conflito, a construção da história com base nos interesses nacionais e ser imparcial quanto as fontes apreciadas – incluindo ai cifras e números de mortos ou de combatentes. É um livro altamente recomendável.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra, acesse o site da Zahar.
Para conhecer o autor, acesse sua página pessoal em www.keithlowehistory.com

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