Os Romanov: o fim da dinastia

Livro de escritor norte-americano descreve em detalhes o assassinato da família imperial russa e a pesquisa científica que resolveu o mistério sobre a morte do último czar.* 

Em julho de 1918, Nicolau II, o czar deposto pelos revolucionários no ano anterior, a ex-imperatriz Alexandra e os filhos Olga, Tatiana, Maria, Anastácia e Alexei foram conduzidos até um pequeno quarto de uma prisão improvisada em Ekaterinburg, na Sibéria, a quase 2 mil quilômetros de Moscou.** Avisados de que um tribunal regional os havia condenado à morte, foram fuzilados junto com outros cinco criados da família.

Na época, apenas a morte do czar foi confirmada pelo governo de Lênin, mas o investigador do governo branco na Sibéria Nicolai Sokolov encontrou elementos que apontavam que os 11 moradores da Casa de Ipatiev haviam sido executados e cremados não muito longe dali.

O destino dos corpos, no entanto, se manteve um mistério até o fim da União Soviética, em 1991, quando seguindo as pistas deixadas por Sokolov nove esqueletos encontrados por historiadores amadores na década de 1980 foram exumados de uma cova rasa próximo ao local da execução. Embora fosse provável que se tratasse da família de Nicolau II, surgiram muitas dúvidas. Seriam aqueles os ossos dos Romanov? Se sim, por que estariam faltando dois esqueletos?

Em Os Romanov: o fim da dinastia (Rocco), Robert Kinloch Massie, vencedor do Pulitzer e autor de best-sellers como Nicolau e Alexandra e Catarina, a Grande, narra a incrível trama feita para ocultar as mortes e as farsas e mistérios que sempre acompanharam a história do destino dos Romanov ao longo das décadas seguintes pós-Revolução de 1917. Os Romanov governaram a Rússia por trezentos anos. 

Além de detalhes sobre o assassinato do czar e de sua família, descritos com base na documentação da época, em diversas entrevistas com membros da família, com pesquisadores forenses e nas pesquisas genéticas realizadas durante os anos 1990, Massie também narra a história dos sobreviventes. Por ordem de Lênin, outros 17 Romanov foram executados (8 dos 16 grão-duques, 5 das 17 grã-duquesas e 4 príncipes). Entre as vítimas estava o grão-duque Nicolau Mikhailovich, um historiador renomado. “A revolução não precisa de historiadores”, afirmou Lênin a Máximo Gorky, que pedira que os bolcheviques poupassem a vida de Mikhailovich. “Uma revolução sem pelotão de fuzilamento não significa nada” é um das frases mais conhecidas do líder revolucionário russo.

Embora quase todos os descendentes Romanov de hoje acreditem que a Rússia não irá adotar uma monarquia constitucional muito menos uma autocracia como na época de Nicolau II, entre os herdeiros cinco ramos da família reivindicam o direito ao trono do czar deposto. Mas nenhum deles ganhou tanto destaque ao longos do anos subsequentes à Revolução Russa quanto Anna Anderson, que, desde seu aparecimento, em 1920, até a sua morte, em 1984, foi tida por muitos como Anastácia, a filha do czar assassinado que teria milagrosamente escapado da execução.

A história de Anna Anderson sempre foi tema de desentendimentos entre os membros da família real sobreviventes, historiadores, autoridades e apoiadores da reivindicante, envolvendo uma série de equívocos, interesses financeiros e disputas judiciais que só foram solucionadas quando exames de DNA confirmaram que Anderson era uma impostora, nascida na Polônia e sem qualquer parentesco com os Romanov. O caso de Anna Anderson enganou até mesmo Hollywood, que popularizou a história com um desenho animado.

Em Os Romanov: o fim da dinastiaRobert Massie conta como foi possível identificar a identidade dos ossos encontrados em Ekaterinburg, os métodos usados e as disputas entre cientistas e laboratórios de genética, entre os governos russo, britânico e norte-americano (o FBI, a KGB e a Casa Real da Inglaterra), as questões familiares que dificultavam o andamento das pesquisas e as questões religiosas (com o envolvimento da dividida Igreja Ortodoxa Russa), sem contar na cobertura da mídia.

Os Romanov: o fim da dinastia é altamente recomendável. Para historiadores, interessados em história russa e também para genealogistas (o caso da família Romanov é um dos mais conhecidos casos solucionados pela técnica de analise genética).

Por Rodrigo Trespach – www.rodrigotrespach.com

Para comprar ou saber mais sobre o livro, acesse o site da Rocco

* A edição brasileira é a versão original do livro, de 1995; dessa forma, Massie não trata da recente exumação dos corpos, da canonização da família imperial nem da construção da Igreja de Sangue, erguida no local da Casa de Ipatiev, onde ocorreram as execuções.

** A transliteração da grafia russa não tem seguido um padrão no Brasil. Algumas editoras têm usado o padrão antigo, já consagrado, e outras têm usado as novas determinações. A editora Rocco optou por manter a grafia dos nomes russos como já consagrados na bibliografia brasileira. Assim, a forma Ekaterinburg é usada e não Iekaterinburgo; da mesma forma Romanov e não Románov, Yurovsky e não Iuróvski,  entre outras sutilizas.

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