Para refletir, sobre a destruição do Museu Nacional

A tragédia que atingiu o Museu Nacional no último domingo, dia 2, comoveu a população brasileira e a notícia correu o mundo – se é que podemos definir como tragédia algo que poderia ter sido evitado. Personalidades, historiadores e diversas instituições científicas manifestaram seu pesar pela perda da mais antiga instituição científica do Brasil, um dos cinco museus mais respeitáveis do mundo. Houve quem comparou a perda do Museu Nacional ao incêndio da biblioteca de Alexandria, no Egito, o mais importante repositório do conhecimento humano na Antiguidade. Em meio à polarização política que o Brasil vive às vésperas das eleições para presidente, não faltam culpados. Mas, não obstante o peso maior da catástrofe recair nos ombros dos nossos políticos e gestores públicos, é preciso fazer mea-culpa.

O brasileiro não liga para história, muito menos para a própria; sofre de falta de identidade – nosso amor-próprio, afirmou certa vez José Bonifácio, é uma “bagatela”. No ano passado, os brasileiros visitaram mais o Museu do Louvre, na França, do que o Museu Nacional. Ações ou manifestações organizadas por ativistas culturais em prol de museus ou patrimônios históricos Brasil afora encontram pouca acolhida entre a população e conseguem reunir não mais do que alguns poucos abnegados – taxados, muitas vezes, de desocupados. Recentemente, ação em favor do patrimônio histórico gaúcho, organizada pelo Conselho Estadual de Cultura, reuniu muito menos pessoas do que se podia esperar de um povo que se diz orgulhoso de sua história e tradição.

O próprio Museu Nacional clamava por socorro há décadas. Os políticos nunca deram importância; o último presidente da república a visitá-lo foi Juscelino Kubitschek, há 60 anos. Nem nos 200 anos da instituição, meses atrás, qualquer autoridade do alto escalão do país se fez presente; nem sequer o ministro da Cultura. E os motivos são claros: nossos políticos sabem que o brasileiro não liga para história. E políticos só agem pressionados, não levantam um dedo que não seja em benefício próprio. Não fariam, nem fizeram o menor esforço para salvar, na visão deles, um prédio velho, com algumas quinquilharias para o qual a população nunca deu bola.

A triste verdade é essa, a maioria dos brasileiros sequer sabia da existência do Museu Nacional. Ou se sabia, não tinha consciência do seu valor. A história nacional é um paciente terminal. O Arquivo e a Biblioteca Nacional, outras duas importantes instituições que guardam a memória e a história do país, ambas no Rio de Janeiro, também correm o risco de terem seus acervos destruídos pelo descaso do poder público. É uma questão de tempo. Mas alguém sabe ou está preocupado com isso?

Rodrigo Trespach – www.rodrigotrespach.com

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