Uma gota de sangue

Em Uma gota de sangue, sociólogo escreve sobre as origens da ideia de raça e como esse mito continua vivo mesmo no discurso de quem afirma querer combater o racismo.

Publicado em 2009 pela editora Contexto, Uma gota de sangue: História do pensamento racial, do sociólogo paulista Demétrio Magnoli, doutor pela USP, gerou – e ainda gera – muita polêmica. O motivo é claro: não existem raças na humanidade, mas políticas públicas têm levado em consideração a cor de pele da pessoas como critérios para ingressos em cargos públicos ou ingresso em universidades.

Para Magnoli, que militou nos movimentos de esquerda até deixar o marxismo na década de 1980, a diferença entre indivíduos jamais poderá ser caracterizada por meio de “raças” ou qualquer outa categoria de inspiração racial, como a cor da pele. Segundo ele, decidir que dois indivíduos pertencem à mesma “raça” apenas pelo aspecto físico é incorrer no mesmo erro dos racistas.

Para Magnoli, adotar critérios raciais como política de Estado sempre gerou mais problemas do que resolveu. Em Uma gota de sangue,  ele analisa a história das políticas raciais, da experiência norte-americana à política de castas da Índia, passando por África do Sul, Ruanda e, talvez o exemplo mais extremo, a Alemanha de Hitler. 

E dentro do contexto nacional, há um ingrediente adicional que é preciso levar em conta, a tão falada “mestiçagem” do povo brasileiro. Algo que não ocorreu, por exemplo, nos Estados Unidos, onde o confronto é entre “negros” e “brancos” – e o título da obra, “uma gota de sangue”, é uma referência a essa política; nos EUA, qualquer pessoa que tivesse um único avô negro era considerado negro. No Brasil, mesmo os mais pobres, se identificam como “pardos”.

Para Magnoli, a mestiçagem não elimina o racismo, mas é uma dificuldade de ordem prática para as políticas raciais. O brasileiro, de modo geral, pelo menos até a implementação da política de cotas, não se dividia entre “negros” e “brancos”, o que para o sociólogo foi importado da realidade estadunidense e por teóricos da esquerda, uma espécie de “tradição inventada”. Para Magnoli, a solução para o racismo, não é simples. Mas não passa pela divisão de “raças”.

Uma gota de sangue é a história de um engano com mais de dois séculos, do tempo da invenção, passando pela desinvenção até a reinvenção do mito da raça.

Com quase quatrocentas páginas, Uma gota de sangue é bem embasado e uma importante fonte de reflexão sobre um tema atualíssimo. Altamente recomendável!

Por Rodrigo Trespach

Compre o livro ou saiba mais sobre a obra no site da Editora Contexto.

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