Deus, uma história humana

Depois de escrever sobre Jesus Cristo, historiador iraniano analisa a relação humana com o mundo espiritual e as origens da crença em Deus.

Reza Aslan nasceu no Irã, mas foi obrigado a fugir com a família para a América quando a Revolução Iraniana derrubou o xá Reza Pahlevi e instaurou no poder o aiatolá Khomeini. Aos 15 anos, já nos Estados Unidos, se converteu ao cristianismo após um encontro de jovens evangélicos na Califórnia. Mais tarde, Aslan se converteu ao sufismo.

Hoje um panteísta assumido, Aslan dedicou muitos anos aos estudos religiosos, em Harvard e na Universidade da CalifórniaSuas pesquisas sobre Jesus Cristo (o personagem religioso) e Jesus de Nazaré (o personagem histórico) resultaram em seu primeiro livro, o best-seller número 1 do New York Times: Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré. 

Agora, em Deus – Uma história humana (Zahar, 2018), Aslan passa a limpo a história das religiões humanas passando pelo animismo pré-histórico, o judaísmo monoteísta e o dualismo zoroastriano até chegar ao trinitarismo cristão e o sufismo islâmico. Com a mesma linguagem coloquial e direta que conquistou o público não especialista em Zelota, Aslan conta de que forma a crença em um ser superior surgiu e como a ideia foi trabalhada e construída ao longo dos milênios pelos mais importantes grupos religiosos.

Aslan começa com o primeira representação humana de Deus, “O Feiticeiro”, um hibrido humano-animal encontrado em Les Trois-Frères, na França, no começo do século XX, e datado de 18000 a.C. O Feiticeiro foi durante muito tempo uma espécie de “deus” universal. Mas foi um entre muitos. Ao longo de sua história, a humanidade esteve sempre mais próxima do politeísmo do que do monoteísmo atual, que só se tornou comum há 3 mil anos.

A religião é antes de tudo, e principalmente, um fenômeno neurológico.

E como o homem deu início ao que chamamos hoje de fé? Segundo Aslan, pelo que se denominou de “Dispositivo Hipersensível de Detecção de Agente”, o Hadd, na sigla em inglês. O Hadd é um processo biológico surgido durante a evolução para permitir que o homem detectasse uma “agência” (ou causa) humana por trás de um evento inexplicável, como o som na floresta distante ou o lampejo de luz no céu. É o Hadd que nos faz acreditar que todos os barulhos da noite são causados por outro ser humano e, portanto, nos mantém em estado de alerta. Esse seria a origem evolutiva do impulso religioso. Pelo menos essa é a teoria no qual acreditam os teóricos cognitivos. 

Explicar a origem de uma crença religiosa específica parece mais fácil do que explicar como ela é transmitida, de crente para crente, cultura para cultura, de século em século. Aí, outras teorias entram em campo. Aliando pesquisas antropológicas e arqueológicas com estudos  no campo da psicologia e da filosofia, de nomes como Sigmund Freud, David Hume, Ludwig Feuerbach e Paul Bloom, entre outros, Aslan reconta a história da fé e de Deus e analisa o que é Deus, afinal.

Acredite em Deus ou não. Defina Deus como você quiser. De qualquer forma, tire uma lição de nossos ancestrais mitológicos, Adão e Eva, e como  fruto proibido. Você não precisa temer a Deus. Você é Deus.

Assim como Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré , Deus – Uma história humana é altamente recomendável!

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra ou sobre o autor no site da Zahar.

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