Rodrigo Trespach para Zero Hora: “A II Guerra foi consequência de tudo o que houve na primeira”

Rodrigo Trespach: “A II Guerra foi consequência de tudo o que houve na primeira”
Historiador lança livros com narrativa de episódios inusitados ou pouco conhecidos a respeito do conflito

Por Carlos André Moreira

Gaúcho de Osório, o historiador Rodrigo Trespach tem feito sucesso editorial com uma série de livros sobre “histórias não ou mal contadas” de períodos históricos. Nesta Feira do Livro, ele lançou seu livro sobre a I Guerra Mundial, seus antecedentes e consequências.

Este seu livro sobre a I Guerra vem na esteira de outras obras suas sobre histórias não contadas ou mal contadas de um determinado processo histórico. Cite duas histórias desse tipo em seu novo livro.

O título é uma escolha da editora, até por motivos comerciais, mas acho que se ajusta. A minha ideia ao produzir essa série de livros foi trazer para o público novas informações sobre História que estão ao alcance apenas do pessoal especializado, acadêmicos e pesquisadores. No caso da I Guerra Mundial, um desses temas é a questão da perseguição aos armênios. Um milhão e meio de armênios foram mortos pelo governo turco na esteira do conflito mundial. Outra dessas ideias que eu trago no livro é a perseguição aos judeus, não pelos alemães, como mais tarde, na II Guerra, mas pelos russos, que já vinham atuando contra os judeus de forma sistemática, com os pogroms. Minha ideia era trazer essas informações para um público que não é especialista.

A II Guerra é um conflito de conhecimento amplo e inspirou um número quase incontável de obras. A I Guerra é, na mente pública, mais complexa. Seria pela falta de uma oposição com o mal absoluto representado pelo nazifascistas?

Sim. Mas também porque a II Guerra é consequência de tudo o que ocorreu na I Guerra. E os resultados foram tão desastrosos na II Guerra que a primeira acabou sendo esquecida do ponto de vista do imaginário popular. Ela também é menos conhecida porque tem uma complexidade geopolítica maior. Muito do que ocorreu durante a II Guerra foi resultado não apenas da I Guerra em si, mas de decisões políticas e diplomáticas tomadas no final. Havia várias inovações tecnológicas à disposição, metralhadoras, aviões… E ela terminou mal resolvida, acabou num impasse e sem resolução. A Alemanha no fim passou por uma revolução interna, e, na sequência da guerra, o armistício e as indenizações impostas ao país levaram diretamente à II Guerra.

O senhor vê algum paralelo entre aquele período e este, em que internacionalmente há ressurgimento de movimentos nacionalistas e de ultradireita?

Vejo como um anacronismo sempre complicado comparar diferentes períodos históricos. Embora haja de fato um movimento de extrema-direita em ascensão no mundo, discordo da palavra que se tem usado para defini-lo, fascismo. É muito complicado fazer comparações entre períodos históricos diferentes. Pegando o Brasil como exemplo. A Alemanha durante o entreguerras era um país destruído e destroçado pelo conflito, mas era bem diferente do atual sistema político. A gente vive em uma democracia com problemas e passamos por uma crise econômica, mas isso não é nem perto do que permitiu o crescimento de Hitler na Alemanha. Não consigo ver no atual quadro uma certeza de que vai se desencadear uma situação semelhante. Gosto de citar uma frase do historiador israelense Yuval Hahari, autor de Sapiens: a história não é matemática, em que um mais um é igual a dois. Ela não é determinista, como prega o marxismo, é caótica.

Fonte: Zero Hora, 7 nov 2018.

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