Se puder, fique em casa. Leia um livro!

Cem anos atrás, a pandemia de gripe espanhola infectou, aproximadamente, 500 milhões de pessoas ao redor do globo e pode ter matado 5% da população mundial – dados da época estimam em 50 milhões o número de mortos, mas estudos modernos acreditam que os óbitos possam ter chegado a 100 milhões.

A humanidade já havia passado por crises semelhantes. Uma peste bubônica atingiu o mundo mediterrâneo, a praga de Justiniano, e matou metade dos súditos do imperador bizantino no século 6. A “Peste Negra”, outra pandemia com origem na China, matou aproximadamente um terço da população europeia no século 14. E duzentos anos mais tarde, a população indígena das Américas foi dizimada pela varíola trazida pelos conquistadores.

Os números acima são assustadores, contudo, não há razão para acreditar que o coronavírus alcance somas parecidas. Existem diferenças significativas que separam a realidade atual da vivida por nossos avós ou bisavós. Quando a pandemia do vírus influenza assolou o mundo no começo do século 20, a tevê ainda era um sonho distante e o rádio um artigo de luxo. As noções de higiene eram precárias, assim como os sistemas educacional e hospitalar. Na época, aproximadamente 65% dos brasileiros eram analfabetos e o livro best-seller, Urupês, de Monteiro Lobato, teve tiragem inferior a 8 mil exemplares. Em um país com 30 milhões de habitantes, só havia hospitais nos grandes centros.

Consequentemente, de nada adiantaram as recomendações para evitar aglomerações, visitas desnecessárias, repouso e isolamento em caso de suspeita de contágio. O saldo foi de mais de 35 mil mortos, incluindo o presidente da República Rodrigues Alves.

Ao contrário daquela época, o sistema de saúde e a medicina de hoje se encontram em um estágio bem mais avançado. Além disso, contamos com uma rede de notícias em tempo real, algo inimaginável há cem anos. Na verdade, convivemos com uma sobrecarga de informações cujo efeito colateral é uma onda de ansiedade, estresse e pânico.

Diferentemente de nossos avós ou bisavós, temos melhores condições para avaliar a situação e comodidades que nos auxiliam a viver por breves períodos de isolamento social sem grandes problemas. Para frear o avanço do coronavírus, basta que nossa geração siga regras básicas de higiene e permaneça sentada no sofá de casa. Decididamente, não é pedir muito. Talvez o mais difícil mesmo seja pedir que a população saia um pouco da frente da tevê ou deixe de lado o aparelho celular.

Se puder, não saia de casa. Uma opção? Ora, nada como um bom livro. Ler é conhecimento! Afinal, como afirmou certa vez o Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa, uma população comprometida com a leitura é crítica, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias. Não espalhe notícias falsas, divulgue coisas positivas. Siga as orientações das autoridades médicas e civis. Leia um ou mais livros. Nunca foi tão fácil salvar vidas.

Rodrigo Trespach
historiador, escritor, autor de doze livros
rodrigo.trespach@gmail.com

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