Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução

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Se o escritor Stefan Zweig, traçando o perfil psicológico da esposa de Luís XVI, escreveu sobre o lado humano de Maria Antonieta, a pesquisadora Caroline Weber entrou no guarda-roupa de Versalhes para ‘despir’ a rainha francesa e mostrar o que havia por de trás da moda. Maria Antonieta ajudou a inventar a moda como um jogo político de apostas altas, um jogo de que ela participou com toda a seriedade e com resultados fatais.

Se o escritor austríaco Stefan Zweig traçando o perfil psicológico da esposa de Luís XVI escreveu sobre o lado humano de Maria Antonieta em Retrato de uma mulher comum (Zahar, 2013), a pesquisadora norte-americana Caroline Weber, Ph.D. em literatura francesa pela Universidade de Yale e professora na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, entrou no guarda-roupa de Versalhes para “despir” a rainha francesa e  mostrar o que havia por de trás da moda e por debaixo da coroa.

Roupa por roupa, vestido por vestido, Weber apresenta em Rainha da Moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução (Zahar, 2008), a história da Revolução Francesa sob a ótica do vestuário. A moda, que na definição o célebre Luís XIV, o Rei Sol (1638-1715), “é o espelho da história”.

Em uma obra original e de fôlego – nada menos do que 87 das 454 páginas que compõem o livro são dedicadas às notas explicativas e citações de fontes primárias – Caroline Weber delineia a história das últimas três décadas da monarquia francesa através de um estudo acurado do vestuário de Maria Antonieta; da infância na Viena de Maria Teresa (1717-1780) ao cadafalso na Place de la Révolution (hoje Place de la Concorde), no centro de Paris.

Do cerimonial em que Maria Antonieta foi despida aos 14 anos na île des Épis, no rio Reno, entre Kehl e Estrasburgo, fronteira entre o território Habsburg e o território Bourbon, onde deixou para trás tudo o que pudesse lembrar a Áustria natal para assumir a identidade de esposa do delfim da França, passando pela quebra  das tradições da corte do Ancien Régime, como a reticência em usar o espartilho ou a insistência em posar com roupas masculinas de montaria.

Do uso exagerado dos poufs – os penteados extravagantes e complexos que chegavam a metros de altura, que se tornaram uma de suas marcas mais conhecidas -, até a reviravolta como a rainha dona do próprio nariz no Petit Trianon, o refúgio com o ar simples da burguesia amante de Rousseau. Dos trajes da revolução, e o preto do luto por Luís XVI, aos simples e derradeiros déshabillé e toucado brancos usados em sua execução na guilhotina.

Se para Zweig, o fracasso sexual de Luís XVI foi motivo da vivacidade exagerada, da superexcitação e da desinibição que moveu Maria Antonieta (1755-1793) por toda a vida, para Weber a última rainha de Versalhes foi uma vítima da moda e da extravagante corte francesa que ela quis dominar e dominou – pelo menos no que se referia a moda.

Como uma tragédia humana, não sem leviandade, tudo que Maria Antonieta concebeu e usou, serviu de prova contra ela mesma e em favor dos revolucionários de 1789. Cada vestido, cabelo, renda ou costura pensada por sua “ministra da moda”, Madame Rose Bertin, serviu apenas para aproximá-la do cadafalso e distanciá-la da realidade de seu povo. Maria Antonieta ajudou a inventar a moda como um jogo político de apostas altas, um jogo de que ela participou com toda a seriedade e com resultados fatais.

Por Rodrigo Trespach

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Acesse ainda o site do Chateau de Versailles e saiba mais sobre a época e a vida na corte francesa. Uma pequena biografia de Maria Antonieta pode ser assistida no vídeo L’histoire de Marie-Antoinette (em francês).

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