Mascarados: A verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc

Mascarados_black_block

Polêmico, censurado pelo Metrô de São Paulo, Mascarados não é um livro com vinculação política; é um estudo sério da sociedade brasileira. Um estudo feito pela universidade e longe da visão simplista apresentada pela mídia.

Os adeptos da tática Black Bloc horrorizaram o país e assustaram o mundo antes da Copa do Mundo do Brasil, em 2014. No entanto, em Mascarados – a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc (Geração Editorial, 2014), a pesquisadora e socióloga Esther Solano Gallego apresenta outra versão para história desses jovens, uma versão menos midiática e espetacularizada; um estudo sério que procurou ouvir os dois lados da história. “A verdade, se existe, tem muitas vozes”.

Baderneiros, desocupados, marginais, vândalos de rosto coberto, bestas covardes. Estes foram os clichês mais comuns, usados para definir o grupo de jovens mascarados e vestidos de preto que invadiu as ruas de São Paulo com manifestações violentas, depredou agências bancárias, incendiou lixeiras, destruiu pontos de ônibus e enfrentou a polícia com pedradas e coquetéis molotov, ocupando as principais manchetes de jornais, revistas e telejornais.

O livro de Gallego, que é doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora de Relações Internacionais da Unifesp, é o resultado de uma extensa pesquisa realizada entre agosto de 2013 e julho de 2014, somado às entrevistas e os relatos dos jornalistas Bruno Paes Manso e Willian Novaes. Paes Manso, formado em economia na USP e jornalismo PUC-SP, trabalhou por dez anos como repórter no jornal O Estado de S. Paulo; também atuou na Revista Veja, Folha da Tarde e Folha de S. Paulo. O jornalista Willian Novaes trabalhou nas redações de IstoÉ, Diário de S. Paulo e Diário do Grande ABC e atualmente é diretor da Geração Editorial.

Para compreender os adeptos da tática Black Bloc, Esther deixou o conforto do seu apartamento no bairro do Brooklin, em São Paulo, e acompanhou os protestos protagonizados pelo grupo durante as manifestações, correndo o risco de ser atingida por bombas ou pedradas nos confrontos com a Polícia Militar. O mesmo foi feito pelos jornalistas Bruno Paes Manso, um dos escalados pelo jornal O Estado de S. Paulo para cobrir a onda de protestos violentos, e Willian Novaes, que entrevistou Reynaldo Simões Rossi, o coronel da Polícia Militar ferido em uma manifestação.

Para Gallego, o posicionamento parcial e espetacularizado dada mídia foram fundamentais para a formação da opinião pública, de que os Black Bloc não passavam de “filhinhos de papai”, baderneiros e desocupados – o estudo apresentou um perfil bem diferente, heterogêneo, com membros saídos da periferia e dos bancos universitários, que incluem funcionários de bancos e funcionários públicos.

Para a socióloga, quem aceita a simplificação apresentada pela mídia, rotulando e apresentando sentenças definitivas para o grupo, não sabe e, principalmente, não quer saber a verdade.

O Black Bloc  surgiu como movimento autônomo na Alemanha Ocidental, nos anos 1980. A expressão “Black Bloc” (“der schwazer Block”; bloco negro) surgiu de uma brincadeira que aludia ao fato de as manifestações nas ruas alemãs se organizarem por meio de “blocos”, como o verde  (ambientalistas) e vermelhos (socialistas).

Ainda que inicialmente as manifestações tivessem um discurso anticapitalista internacional, o Black Bloc brasileiro foi aos poucos se apropriando da realidade do país, reivindicando mudanças e melhorias no sistema político de forma geral. Tendo o anarquismo como inspiração, os protestos contra o Estado brasileiro e a violência institucional eram mais fortes do que o ideal anarquista propriamente dito.

Quando perguntada “você é a favor ou contra eles?”, Gallego responde “pergunta errada”. Em um país de violências, por que umas, as brutais, não geram reação social nenhuma? Por que outras, as do Black Bloc, mínimas se comparadas com aquelas, geram todo um espetáculo social? Para a autora do estudo, “a sociedade brasileira perdeu tanto tempo tentando se posicionar, emitir opiniões ou sentenças, e esqueceu que o crucial era analisar o fenômeno, tirar dele lições sobre a nossa realidade, aproveitá-lo para questionar”. Para a pesquisadora, a decepção é o conceito-chave para entender o contexto político do Brasil.

Gallego acredita que por trás da selvageria há uma mensagem clara: a voz de um povo cansado da opressão a que é submetido diariamente. “A violência nasce da certeza de que os protestos pacíficos não geram resultado político efetivo nenhum e da descrença absoluta e firme das instituições políticas do país”. A sociedade não está pronta para assumir que a raiva do Black Bloc é um sintoma, assim como os problemas estruturais das polícias são sintomas que estão expondo de maneira explicita os graves problemas do atual modelo social brasileiro.

Mascarados – a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc também é um livro-reportagem, que revela quem são, o que pensam e o que queriam os Black Blocs. Se o trabalho da socióloga foi o da pesquisadora acadêmica, que buscou entender o que havia por trás da violência, o dos jornalistas Bruno Manso e Willian Novaes foi o de apresentar a história da onda de protestos que atingiu o Brasil em 2013-2014 e contar a história dos personagens reais dos adeptos da tática de Black Bloc.

Assim, entre muitas histórias, é possível conhecer tanto o “barão revolucionário”, poliglota, proprietário de seis empresas diferentes – como um restaurante e uma loja de sapatos – como a “Emma”, eleita símbolo sexual do movimento, capa da revista Veja, e uma das poucas pessoas adeptas que conhece profundamente a tática Black Bloc.

Polêmico, com material publicitário censurado pelo Metrô de São Paulo em novembro de 2014, Mascarados – a verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc não é um livro com vinculação política; é um estudo sério da sociedade brasileira. Um estudo feito pela universidade e longe da visão simplista apresentada pela mídia.

Por Rodrigo Trespach

Compre o livro, saiba mais sobre a obra ou sobre os autores no site da Geração Editorial.

Assista o booktrailer aqui.

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!