O mundo de ontem

Autobiografia O Mundo de Ontem

Stefan Zweig foi um dos escritores mais lidos no mundo durante as décadas de 1920 e 1930. Em O mundo de ontem ele retrata de forma brilhante – saudosa e melancolicamente – a vida social e cultural da Europa das quatro primeiras décadas do século mais conturbado da história mundial.

O escritor austríaco Stefan Zweig foi um dos autores mais lidos no mundo durante as décadas de 1920 e 1930. Seu infortúnio for ter nascido judeu e vivido em uma Europa dominada pelo antissemitismo nazista. Perseguido no Velho mundo, exilado no Brasil – onde escreveu seu último romance, Uma partida de xadrez -, um depressivo e desesperançoso Zweig suicidou-se com a mulher Lotte na noite de 22 para 23 de fevereiro de 1942.

Em Autobiografia: o mundo de ontem (Zahar, 2014), cujo título original em alemão era “O mundo de ontem: memórias de um europeu”, Stefan Zweig escreve de maneira ímpar a vida social e cultural europeia do final do século XIX até a ascensão do nazismo, demonstrando todo o elevado nível cultural de sua formação. Muito além da mera analise crítica do passado, seu estilo dramático, romântico é arrebatador.

Escrito em uma fase extremamente depressiva do autor – a fase final de sua vida –  O mundo de ontem  revela um escritor maduro e ciente de sua importância no mundo intelectual da época. Um Zweig saudoso narra como ele viu Berlim, Paris, Londres e Nova York pela primeira vez, os encontros com os poetas, pintores, músicos, escultores, políticos e filósofos mais influentes do século XX, os núcleos intelectuais alemães, franceses, belgas, ingleses e russos.

A paixão por Wal Whitman, sua relação com Rainer Maria Rilke, Hugo von Hofmannsthal, Adalbert Matkowsky, Josef Kainz, Walther Rathenau, Paul Valéry, H.G. Wells, Richar Strauss, James Joyce, Thomas Mann, Auguste Rodin, Sigmund Freud, Romain Rolland e até mesmo Karl Haushofer, que, ironicamente, grande influência exerceria no nacional-socialismo de Hitler, aparecem em O mundo de ontem de forma tão viva e eloquente quanto em sua memória prodigiosa. Pois foi puramente de sua memória que o livro foi escrito, já que sua biblioteca, seus diários e anotações ficaram para trás ao deixar a Europa sob o poder da suástica.

Ainda que tenha obtido o doutorado em filosofia e história, Zweig relembra a frustração com o ensino universitário – “Por mais prático, útil e proveitoso que o ensino universitário possa ser para o talento mediano, tão dispensável ele me parece para naturezas individuais produtivas” -, a excitação desmedida com a carta timbrada com o selo da Schuster & Löffler, uma das mais importantes editoras alemã, e a aceitação para publicação de seu primeiro livro, aos 20 anos de idade – Silberne Saiten foi publicado em 1901.

Um dos poucos poetas que não aderiram a onda de patriotismo nacionalista da Europa durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi um pacifista manifesto e atuante, membro de um círculo de intelectuais que incluíam “amigos” e “inimigos”.

Depois da guerra, ao voltar para sua Áustria natal encontrou um país totalmente diferente daquele em que nascera e vivera: o império de 700 anos dos Habsburg, base estrutural da sociedade cultural da época, havia dado lugar à uma república, a economia entrara em colapso e isso nem de longe era o maior dos problemas.

Superada a crise econômica da década de 1920 e mesmo com o sucesso de sua obra no mundo literário, Zweig viu a Europa democrática ceder lugar à brutalidade da década de 1930. Quando Hitler anexou a Áustria em 1938, o escritor judeu, antevendo o pior, deixou para trás tudo o que lhe era mais caro na vida, seu país, sua mãe e a casa em Salzburg onde vivera os últimos 20 anos. Seus livros foram proibidos, destruídos, incinerados. De escritor mais lido em língua alemã, passou a ser perseguido, desprezado, odiado.

A partir daquela data passou a ser um “apátrida”, refugiando-se primeiro na França, depois da Inglaterra, nos Estados Unidos e, por último, no Brasil, um “país prodigamente presenteado pela natureza com a mais linda cidade do mundo”, de “beleza multifacetada”, sobre o qual “lançara um olhar para o futuro”.

O mundo de ontem é mais do que a autobiografia de um escritor best-seller, é a biografia do mundo das quatro primeiras décadas do século mais conturbado da história mundial, na visão de um intelectual humanista que, em meio a um turbilhão de acontecimentos, foi capaz de escrever sobre o próprio tempo e vida com uma visão (auto)crítica natural só alcançada pelos gênios. “Toda sombra é, em última análise, também filha da luz. E só quem conheceu claridade e trevas, guerra e paz, ascensão e decadência viveu de fato”.

Por Rodrigo Trespach

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No site da editora ainda é possível ler duas cartas trocadas entre Zweig e Sigmund Freud e assistir comentários do brasileiro Alberto Dines, autoridade internacional em Stefan Zweig e sua obra. Interessados pelo autor podem acessar também o site da Casa Stefan Zweig, onde Zweig passou seus derradeiros dias.

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