O império de Hitler: a Europa sob o domínio nazista

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Mark Mazower demonstra, em detalhes, que falta de planejamento estratégico e organização administrativa foram os principais componentes da derrota nazista na Segunda Guerra Mundial. Militarmente vitorioso, diante de um território ocupado de proporções continentais, o império de Hitler caiu ante a desorganização, as disputas entre o partido, a SS e o exército.

Durante sete décadas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tanto o nazismo quanto o conflito armado, travado em seis anos de lutas ferozes, resultaram em uma infinidade de livros dedicados a um dos períodos mais sombrios da história da humanidade. Apesar disso, pouquíssimos foram os que abordaram o tema sob a ótica da organização político-administrativa do vasto território ocupado pelos alemães entre 1939 e 1945 – um território que ia da costa da Normandia às planícies da Rússia, do Norte da África à Escandinávia. Talvez, mais do que pela força de seus inimigos, o Terceiro Reich tenha desmoronado pela absoluta falta de planejamento estratégico, objetivos claros e práticos.

Ainda que a campanha militar da Wehrmacht seja levada em conta, em O império de Hitler – A Europa sob o domínio nazista (Companhia das Letras, 2013), o historiador Mark Mazower analisa como as divergências e disputas entre as principais organizações nazistas levaram o império nacional-socialista à derrocada.

O império de Hitler é uma obra monumental. São mais de 800 páginas! Trabalho de fôlego de Mazower, que é professor de história na Universidade de Columbia, em Nova York, e no Birkbeck College de Londres. Seu livro anterior Continente sombrio: a Europa no século XX , também publicado pela Companhia das Letras, ganhou o Prêmio Bentinck.

Para Mazower, o império nazista ruiu tão rapidamente quanto foi construído, principalmente porque o projeto político de Hitler servia a Alemanha e tão somente ao povo alemão. 

Com a invasão da União Soviética, em 1941, a guerra no Leste, na ideologia nazista, seria uma guerra de extermínio. Do ponto de vista prático, ao longo da guerra, a administração alemã nos países ocupados, com exceção àqueles de origem germânica, como Dinamarca e países Escandinavos, foi de extrema inabilidade política. Mesmo quando os alemães foram recebidos como heróis no Front Oriental, caso da Ucrânia, que esperava se livrar do julgo soviético, o aparelho administrativo alemão não usou a receptividade dos conquistados a seu favor.

A política nacionalista de Hitler não era compatível com as aspirações nacionais de uma Europa não alemã. No auge da extensão do poder da Alemanha, o Führer era o senhor de 244 milhões de pessoas, mas só 90 milhões eram, de fato, alemães. E mesmo países colaboracionistas, como França de Vichy, viam com horror como Hitler, Himmler e Heydrich lidavam com populações não-alemãs.

Mark Mazower demonstra em O império de Hitler que foi justamente a estrutura pouco ortodoxa e bizarra da ocupação alemã, o principal componente da derrota nazista. A falta de planejamento, as disputas entre o NSDAP, a SS e a Wehrmacht, e o patente erro de cálculo dos alemães, incapazes de antever as tremendas dificuldades da missão de germanizar a Europa e pô-la sob a égide da suástica.

O conceito racial do nacional-socialismo era tão complexo e absurdo, que a própria definição de alemão não tinha senso comum dentro da SS de Himmler. Seu plano de reassentamento de populações – que seria o maior da história da humanidade – foi um fracasso.  Enquanto isso a Alemanha precisava importar trabalhadores estrangeiros, prisioneiros e escravos de todas as regiões da Europa, devido a escassez de mão de obra – a presença de trabalhadores estrangeiros na Alemanha saltou de 3% para 19% entre 1940 e 1944.

Dentro da Grande Alemanha, “alemães étnicos” que haviam sido trazidos para ocupar terras outrora ocupadas por poloneses ou tchecos, eram ridicularizados pelos alemães do Reich, por falarem um alemão rudimentar.

Mesmo Hans Frank, governador-geral da Polônia ocupada, e o macabro líder SS do Einsatzgruppe D Otto Ohlendorf, acreditavam que a Alemanha e Hitler seguiam o caminho errado, subestimando a importância nacional dos povos ocupados no Leste e concedendo superpoderes a um Himmler carente de realidade política. O que não permitiu que tanto Frank quanto Ohlendorf continuassem a eliminar judeus.

Em verdade, a unidade política e cultural idealizada por Hitler só existiu em sua própria cabeça. Um sonho louco, que custou a vida de mais de 50 milhões de pessoas, incluindo 7 milhões de alemães.

Com a derrota alemã e o falência do império colonial britânico, a Segunda Guerra marcou o fim do imperialismo europeu. Uma Nova Ordem mundial surgiu, sem a participação da Europa.

Por Rodrigo Trespach

Compre o livro ou saiba mais sobre a obra no site da Companhia das Letras.
Ou ainda, acesse o site oficial do escritor (em inglês) www.mazower.com

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