Na Iminência do Extermínio

Na iminência do extermínio

Escrito por um dos mais conceituados historiadores judeus na atualidade, Na Iminência do Extermínio é um livro surpreendentemente perturbador sobre o colapso do povo judeu às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Além do primoroso e original trabalho histórico, o livro é importantíssimo como fonte de conhecimento cultural da civilização judaica.

No começo da década de 1930 os judeus alemães estavam em rápido declínio demográfico. Em quase todos os cantos da Europa, comunidades judaicas também passavam por uma crise existencial. E o nazismo e o Holocausto ainda não eram uma realidade.

Os judeus haviam se transformado em uma comunidade urbana, deixando as shtetlakh (a cidades pequenas) para habitar a shtot (a grande cidade); a exogamia, o casamento com não judeus, alcançou índices elevados no começo do século XX; e a mobilidade social e a modernização cobraram seu preço.

A população judaica encolheu 11% entre 1925 e 1933, ano da ascensão de Hitler ao poder. Em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, viviam na Alemanha, na Áustria e no Protetorado da Boêmia e Morávia – a Grande Alemanha – apenas 345 mil dos mais de 9 milhões e 700 mil judeus europeus.

Na Polônia, vivia a maior comunidade judaica, 3.225.000 judeus. Somente na capital, em Varsóvia, viviam 380 mil, mais do que todos os judeus da Alemanha. Países como França, Hungria, Romênia e a Rússia (mais de 3 milhões) eram os outros grandes polos da cultura judaica. Fora do continente, no Reino Unido, viviam 380 mil judeus.

São esses quase dez milhões de judeus que Bernard Wasserstein estuda minuciosamente em Na Iminência do Extermínio (Cultrix, 2014). Especialista em história judaica, Wasserstein é professor emérito na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e autor de 12 livros sobre o tema. Apoiado em uma vasta e diversificada pesquisa, o historiador britânico desconstrói o mito de que os judeus eram uma comunidade uniforme.

Em verdade, a pesquisa de Wasserstein revela que desde o século 18 havia uma cisma entre concepções do judaísmo como religião e como conceito étnico, e que em 1939 eles estavam divididos em quatro zonas distintas, com características muito próprias, e perto de um colapso terminal.

No período entre guerras, em quase todo o continente eles haviam sido destituídos dos diretos civis e estavam se transformando em párias. Um sombrio panorama demográfico avançava em espiral descendente. Um “suicídio racial” que aliado às disputas políticas, ideológicas e de classe, tornaram os judeus incapazes de se organizar e de lutar internacionalmente por seus irmãos de fé e cultura.

A desunião foi a marca característica da política judaica nesse período. Não foram raras as vezes, que os partidos políticos judaicos criaram milícias uniformizadas e usaram da força contra seus oponentes também judeus. Em 1923, quando os sionistas poloneses celebraram a inauguração da Universidade Hebraica, os judeus comunistas receberam instruções para tumultuar o evento.

Aqueles que viviam na zona democrática da Europa, a Europa Ocidental, eram apenas 10% da população total. Uma parcela vivia na Alemanha havia mil anos e estava tão adaptada a cultura e a história alemã que eram tão alemães quanto os próprios alemães.

Na Europa Oriental, entre Alemanha e União Soviética, vivia o grupo maior e o centro da ideologia e da cultura judaica. Na Polônia, ainda que a maioria considerasse o país como seu lar, os judeus estavam em um grau considerável, isolados da população do ponto de vista religioso, socioeconômico e político.

Na União Soviética vivia outra grande parcela dos judeus europeus, mas em rápido declínio depois de 1917. Sem o coletivismo dinâmico dos judeus poloneses, o povo judeu russo sequer poderia ser chamado de comunidade. Como membros da “classe exploradora”, pequenos comerciante e artesãos, eles foram rapidamente transformados em “lishentsy”, destituídos.

Na década de 1930, vários países europeus criaram ou incentivaram leis antissemitas. Na Polônia, ainda que condenando os ataques a judeus, o Partido Socialista apoiou a emigração judaica. O líder do Partido Conservador preconizou, em 1937, a “emigração forçada de judeus”.

Além do primoroso e original trabalho histórico, importantíssimo para compreensão do nazismo e do Holocausto,  Na Iminência do Extermínio traz ainda uma lista de judeus influentes que viveram, escaparam ou morreram durante a Segunda Guerra e um grande número de expressões, poemas, orações e músicas em iídiche e judeu-espanhol, e particularidades das comunidades judaicas em diversos países europeus, que servem como fonte de conhecimento cultural da civilização judaica. Não por acaso, o livro foi premiado com o Yad Vashem International Book, em  2013.

Por Rodrigo Trespach

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