Crer & Destruir: Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista

Historiador francês estuda em detalhes a formação acadêmica de uma promissora geração intelectual alemã pós- Primeira Guerra Mundial que serviu à ideologia genocida do Terceiro Reich de Hitler.

Se os membros do alto escalão do Partido Nazista eram, em sua maioria, homens sem instrução formal e vindos das classes baixa e média da Alemanha pós-Primeira Guerra, a elite da Schutzstaffel (a temível SS) e o Sicherheitsdienst (o Serviço de Segurança, responsável, entre outros, pela Gestapo, depois transformado em  Reichssicherheitshauptamt, Escritório Central de Segurança do Reich), eram quase todos homens com boa formação acadêmica, inteligentes, cultos, com doutorado em várias ciências humanas. Como foi possível que a elite intelectual alemã servisse a ideologia genocida de Hitler?

Em Crer & Destruir: Os intelectuais da máquina de guerra da SS nazista (Zahar, 2015), o historiador francês Christian Ingrao, diretor do Institut d’Histoire du temps Présent, de Paris, pesquisando minuciosamente a trajetória pessoal e a formação intelectual de oitenta membros das organizações mais temidas do regime de Hitler, a SS e o SD, tenta responder uma das perguntas mais perturbadoras sobre o Terceiro Reich.

Entre os pesquisados por Ingrao estão muitos nomes marcados pela atuação nos Einsatzgruppen, os grupos de operações especiais, responsáveis pelo extermínio de judeus no Front Leste. Em alguns casos, responsáveis diretos pelos assassinatos. Bruno Müller chegou mesmo a matar, com as próprias mãos, uma mulher e seu bebê à guisa de demonstração perante a tropa reunida.

Baseado em farta documentação, oriunda dos depoimentos e relatórios dos próprios nazistas durante os julgamentos pós-guerra, Ingrao foi capaz de identificar o sentimento revanchista dos jovens futuros líderes da SS no período imediatamente pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seu engajamento no movimento völkisch (etnonacionalista) nos anos de universidade, a formação e o doutoramento em áreas associadas a identidade e a história alemã e a posterior aplicação do radicalismo étnico levado a cabo na invasão da Europa Oriental.

Germanistas, historiadores, antropólogos e juristas eles formaram a base legal do que se chamou de “ciências de legitimação”, as disciplinas responsáveis diretas pela criação, fundamentalização e orquestração da ideologia nazista da superioridade da raça ariana e a necessidade vital de eliminação das raças impuras. E Ingrao detalha como esses intelectuais, filhos da Alemanha derrotada na Primeira Guerra, construíram e transformaram uma ideologia racista e preconceituosa no ideal de uma nação.

Crer & Destruir: Os intelectuais da máquina de guerra da SS nazista é um dos livros indispensáveis àqueles que procuram entender o nacional-socialismo.

Por Rodrigo Trespach

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