A utilidade do inútil

AUtilidadeDoInutil

O conhecimento humanista é útil, mas desprezado pela sociedade moderna como algo inútil por não gerar lucro. Ordine criou um manifesto atual sobre a necessidade e a importância da literatura e da cultura no desenvolvimento da humanidade.

 “Devemos continuar a crer que a cultura e uma educação livre são os únicos meios para tornar a humanidade mais humana”, afirma Nuccio Ordine, professor de literatura italiana da Universidade da Calábriacolaborador do jornal Corriere della Sera e doutor honoris causa pela UFRGS.

Em uma sociedade que repousa sobre bases capitalistas, onde apenas conhecimentos específicos de resultados práticos e imediatos são valorizados e a busca desenfreada pelo capital é o fim a ser alcançado, a utilidade de saberes que não geram lucro é considerada inútil.

Em A utilidade do inútil (Zahar, 2016), Ordine revisita o passado da humanidade e extrai dos clássicos – de Aristóteles e Platão a García Lorca, passando por Victor Hugo, Immanuel Kant, William Shakespeare entre outros – uma mensagem humanista. Eis o “manifesto” de Ordine, por uma “humanidade mais livre, mais tolerante e mais humana”. Uma luta contra o utilitarismo na ciência, na educação e na cultura.

Como exemplo, quanto a educação, Ordine é categórico: as universidades transformaram-se em empresas, os professores em burocratas e os estudantes em clientes. Em A utilidade do inútil, ele resume como a ótica capitalista destrói a base sobre a qual a humanidade sempre repousou, o conhecimento:

Professores transformam-se cada vez mais em simples burocratas a serviço da gestão comercial das empresas universitárias. Passam seus dias a preencher formulários, fazer cálculos, produzir relatórios (às vezes inúteis) para estatísticas, tentar enquadrar as rubricas dos orçamentos cada vez mais minguados, responder questionários, preparar projetos para obter míseros aportes, interpretar normas ministeriais confusas e contraditórias.

E para combater o capital e o utilitarismo superficial, lembra um provérbio encontrado em um manuscrito no Saara: “Conhecimento é uma riqueza que se pode transmitir sem se empobrecer”. Ou Victor Hugo: combate-e a crise não cortando os fundos destinados à cultura, mas duplicando-os.

O conhecimento humanista é extremamente útil na formação humana, mas desprezado pela sociedade moderna como algo inútil por não gerar lucro. Ordine criou um manifesto atual sobre a necessidade e a importância da literatura e da cultura no desenvolvimento da humanidade, uteis em tudo aquilo que nos ajuda a sermos melhores e melhoramos o mundo.

Por Rodrigo Trespach

Saiba mais sobre a obra A utilidade do inútil no site da Zahar.

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!