Uma geração de cada vez

Ainda que dependa basicamente de nomes, datas e documentos, genealogia não é uma ciência exata. Um erro frequente cometido pelos iniciantes, seja pela ansiedade ou pela necessidade de encontrar ancestrais, é pular etapas, isto é, querer encontrar parentes muito longe em sua linha de tempo antes mesmo de fundamentar muito bem as gerações mais próximas.

Esse erro ocorre em maior número entre aqueles que dão a partida na busca por seus ancestrais quando o interesse também envolve o tema imigração. Encontrar o imigrante passa a ser uma obsessão antes mesmo de percorrer o caminho seguro de documentar cada geração posterior à chegada do pioneiro.

Assim, muitos iniciantes passam a procurar na internet sobrenomes idênticos ao seu. E quando encontram passam a procurar uma ligação, acreditando que todos os problemas da pesquisa estarão resolvidos pelo simples fato de terem sobrenomes iguais. “Deve ser o meu”, pensam. Às vezes, por coincidência ou sorte de principiante, quando a família já foi mais bem estudada por um genealogista experiente, isso até pode dar certo. Mas na maioria das vezes não dá. Pode ter certeza, seu trabalho será maior e mais penoso.

Um dos motivos para isso, o mais claro, é que alguns sobrenomes são particularmente comuns. Silva, Oliveira, Müller, Schneider, Gonzales, Ferrari ou Guerra são tão comuns em Portugal, Alemanha, Espanha e Itália que o genealogista irá cruzar com dezenas de imigrantes com estes sobrenomes e a maioria deles sem ligação direta com o ancestral procurado.

Outro problema enfrentado nestes casos é a alteração gráfica que muitos sobrenomes tiveram ao longo dos séculos. O exemplo de meu ancestral paterno é bem significativo. Passei muito tempo tentando encontrar um imigrante “Trespach” até perceber que algo estava errado: o imigrante de 1825 usava a grafia “Dressbach”. E família usou ainda o “Tresbach” e “Dresbach”, o que acabou gerando quatro ramos distintos da mesma família.

Neste caso específico, a língua alemã foi um problema a mais para os cartórios brasileiros, mas não podemos esquecer que até meados do século XX quase todos os documentos eram manuscritos e escrever sobrenomes – principalmente os de origem não lusa – eram sempre um problema, tanto para quem escrevia quanto para quem precisava ler. Assim, acrescentar um L ou T, trocar M por N, entre outros erros, eram bem comuns.

Ainda há o problema geográfico. A internet encurtou distâncias e as pessoas esquecem com frequência que nossos antepassados não tinham essa facilidade. Procurar o imigrante pela grande rede sem ter a noção de seu local de origem pode nos levar para uma pista falsa e, às vezes, na direção oposta.

Bom, se já sabemos que tentar ligar você ao imigrante de forma direta não é o ideal, qual seria o procedimento mais seguro? A resposta é bem simples e até óbvia, ainda que insistamos, às vezes, em não querer aplicá-la: devemos seguir cada geração anterior a nós, documentando e fundamentando as informações que temos de cada uma delas. Ou seja, encontrando a maior quantidade possível de documentos e organizando-os para que possam servir de análise.

Se tivermos boas informações de nossos avós, teremos uma boa chance de descobrirmos quem eram nossos bisavós e assim por diante. Quando falamos em boas informações nos referimos principalmente a datas, nomes e locais, o tripé básico da pesquisa genealógica. No caso das datas, ainda que não exatas, ter pelo menos o ano correto já pode ser considerada uma boa informação.

Genealogia é algo fantástico sim, quase um vício. Hum, ok, é mesmo um vicio! Mas impaciência e falta de alguns cuidados podem não apenas prolongar a pesquisa como comprometê-la. Tenha paciência, documente bem uma geração de cada vez e siga em frente. Com o tempo você descobrirá que pode encontrar não apenas o ancestral paterno do qual você recebeu o sobrenome, mas o materno, o de uma avó, de outra, e de outra. As possibilidades são múltiplas e infinitas.

Por Rodrigo Trespach

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