Genealogia: etimologia dos sobrenomes

familiennamen

Os antigos romanos eram inicialmente identificados apenas pelo “praenomen” (o prenome), ou seja, se conheciam apenas pelo que hoje chamamos de nome próprio: João, Pedro, etc. Com o passar do tempo, passaram a usar três nomes para a melhor identificação e representação de sua classe social. O nome próprio vinha primeiro, depois vinha o “nomem”, que designava o clã ou tribo e o último, o “cognomen”, nome que designava a família. Os romanos ilustres acrescentavam ainda um quarto nome, o chamado “agnomen”, para comemorar feitos memoráveis.

Quando o Império Romano começou a ruir nos primeiros séculos da era cristã, a utilização de nomes próprios sem identificação de sobrenomes tornou-se costume novamente já que as tribos germânicas que estavam invadindo o império e impondo uma nova ordem não conheciam o uso de sobrenomes (“nomen” ou “cognomen”).

Isso perdurou até a Idade Média, onde as pessoas ainda eram conhecidas somente pelo “praenomen”. Nessa época, com o crescimento populacional gradativo nos centros urbanos, os nomes próprios já não eram mais suficientes para distinguir as pessoas. No campo, com o direito de sucessão hereditária de terras, era preciso algo que indicasse vínculo com o dono da terra, para que os filhos ou parentes pudessem adquirir a terra, já que qualquer pessoa com o mesmo nome poderia tentar se passar por filho. Com o uso cada vez mais difundido dos documentos e a necessidade de deixar registrados todos os atos políticos, econômicos e religiosos passou a ser de importância capital identificar com exatidão as pessoas. Então, a partir dos séculos 16 a necessidade de adicionar outro nome para distinguir as pessoas de mesmo nome ganhou popularidade.

No entanto, mesmo tendo sido o começo para todos os sobrenomes que existem hoje, grande parte dos nomes usados na Idade Média nada tinha haver com família, isto é, não eram hereditários. Os nomes que eram passados de pai para filho, se tornaram comuns só a partir do século 16, com a Reforma Protestante, e foi somente entre o final do século 17 e o início do século 19, é que eles se tornaram permanentemente fixos a uma família.

A Reforma contribuiu muito para a popularização do uso de sobrenomes quando, a partir do ano de 1524, os pastores começaram a registrar e manter os registros de casamentos e batismos em suas Igrejas como forma de contabilizar seus fiéis, sendo logo imitados pelos padres da Igreja Católica, que também passou a registrar e manter seus atos religiosos depois do Concílio de Trento (1545-1563), permitindo, assim, que muitos sobrenomes hoje possam ser seguidos até essa época.

A etimologia dos sobrenomes (os “Familiennamen”, em alemão) pode ser dividida em quatro grandes grupos:

Toponímicos/habitacional – São sobrenomes derivados do lugar de habitação de um ancestral, ou seja, a pessoa era identificada pelo lugar de origem de seu ancestral. Nesse grupo estão, por exemplo, Bach (arroio), Berg (montanha), Bayer (da Baviera) e Westphalen (da Westfália).

Patronímicos – Procedimento muito comum em todas as comunidades humanas para distinguir um indivíduo dentro de seu grupo, no qual havia inúmeras pessoas com o mesmo prenome (João, Pedro, etc.). Refere-se ao nome do pai do indivíduo, ou seja, identificação de alguém, tomando-se como referência seu pai. Assim, “José o filho de João” ou “Antônio o filho de André” por economia de palavras, passou-se a usar “José de João” e “Antônio de André” e com o tempo suprimiu-se também a preposição “de”. Desta forma se explicam os sobrenomes cuja origem imediata e evidente é um prenome, como Jacobsen (filho de Jacó), Lipp (abreviação de Phillip) e Peters (de Pedro).

Profissões – Os sobrenomes com origem nas profissões é bem numeroso na Alemanha. Era dado às pessoas de acordo com sua ocupação. Dentro desse grupo podemos citar os Hoffmann (cortesão, palaciano, arrendatário), Maurer (pedreiro), Schmidt (ferreiro), Schneider (alfaiate) e Schumacher (sapateiro). Sendo que os Hoffmann (ou Schmidt, ou Schumacher etc.) de uma vila não tinham necessariamente alguma relação com os Hoffmann de outra vila, e assim por diante.

Características físicas/descritivo – São sobrenomes com origem nas características físicas, psicológicas, ou marcantes de um ancestral. Aqui estão os Gross (grande), Jung (jovem), Klein (pequeno) e Kleinhand (mão pequena).

Informações extraídas de forma reduzida de:
TRESPACH, Rodrigo. Passageiros no Kranich. Porto Alegre: Editora Alcance, 2007, p.18-19.

Para saber mais, sobre os sobrenomes a dica é o livro Familiennamen, Herkunft und Bedeutung von 20.000 Nachnamen, de Volker  e  Rosa Kohlheim, publicado pela Duden, em Mannheim, em 2005.

Ou assista a palestra do genealogista André Hammann sobre o tema, aqui.

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