“Histórias Não (ou Mal) Contadas” confere nuances à Segunda Guerra Mundial

Histórias não ou mal contadas3

É ousado o que o historiador gaúcho Rodrigo Trespach fez em Histórias Não (ou Mal) Contadas – Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que terá sessão de autógrafos e bate-papo com o autor hoje, às 19h, na Saraiva do Praia de Belas Shopping.

Já na introdução, o autor trata de fazer as devidas ressalvas: seu livro está longe de ser revisionista. Muito pelo contrário! Houve 6 milhões de judeus assassinados no Holocausto? Claro, testemunhas primárias estão aí para contar e deixaram registros que se contrapõem a levianos exercícios de antissemitismo travestido de pós-verdade.

Trespach mostra quão ampla foi a crueldade do nazismo, trazendo-nos as perseguições também a homossexuais, ciganos e outras minorias. Toca em pontos essenciais. Exemplo de um esclarecimento que chega já na introdução: “Os Aliados não eram apenas guerreiros lutando por paz e liberdade. (…) Acabada a guerra, Stálin mantinha 20 milhões de prisioneiros-escravos na União Soviética. Os negros norte-americanos que haviam lutado por liberdade nos campos da Europa e nas ilhas do Pacífico ainda eram tratados como animais no próprio país (…). Liberdade?”.

Boa pergunta. Trespach não nega. Acrescenta. Põe tintas e nuances. Nem o maniqueísmo legítimo ele desautoriza, até porque havia um lado bom e um lado mau. O que ele faz é reunir “histórias contadas sob um ponto de vista pouco convencional”. O autor não tira a carga do nazismo, mas, ora, fala o óbvio por vezes ignorado ao relatar atrocidades de chineses, britânicos, americanos e até judeus que se voltaram contra os seus e só se deram conta disso quando era tarde. Amplia a teoria incontestável da “banalidade do mal”, cunhada por Hannah Arendt. Segue a tendência de museus do Holocausto que usam o genocídio nazista como ferramenta genérica.

Com limpidez de estilo e conteúdo, o livro mostra o papel do Japão, já no começo da década de 1930, para o desenlace da II Guerra, cujo marco inicial foi convencionado para 1939. A arrogância punha os japoneses como “raça pura” em relação aos chineses, cujo país invadiram. O livro aponta feridas esquecidas. Os países neutros eram “prostitutas virgens”. União Soviética? Sim, acabou sendo decisiva para os aliados. Mas, antes disso, o acordo Molotov-Ribbentrop lhe permitira ser fornecedora dos nazistas.

Algumas curiosidades fazem o leitor rir baixinho: Hitler tinha “problemas de flatulência”. Esse tipo de informação põe leveza na densidade. O autor ainda relata resistências como a dos alemães da Rosa Branca, de judeus que se rebelaram e de outros. Todo o livro abre novas janelas. O britânico Alan Turing, que decifrou o código da Enigma alemã, não virou herói por ser homossexual. Também conviria destrinchar o caldo cultural antissemita europeu. 

O nazismo foi o ápice da ignorância. A Alemanha dos anos 1930 foi um prato cheio. E o sionismo, como movimento de libertação, foi consequência da tal tradição abjeta. Mas seria tema para novo livro.

Por Léo Gerchmann, Zero Hora de 04/05/2017
Para ler ou baixar o jpg da página, clique na imagem abaixo.

Leo Gerchmann Histórias não ou mal contadas Segunda Guerra ZH de 0405 2017

Curta e compartilhe com amigos e interessados. Obrigado!