O mundo em guerra: 1939-1945

Na maioria dos livros sobre a Segunda Guerra Mundial encontramos com frequência as grandes estratégias, batalhas honrosas, inúmeras carnificinas e estatísticas… Muitas estatísticas. Há uma verdadeira legião de historiadores, militares e curiosos obcecados por armas, mapas, veículos, discursos, enfim, pelos mínimos detalhes do conflito. A Segunda Guerra, mais do que sua importância como inflexão histórica na História Contemporânea, é alvo constante de filmes, livros e documentários que contam e recontam nos mínimos detalhes o conflito que fez cerca de 45 milhões de pessoas de vítimas.

O mundo em guerra 1939-1945

O resultado desse esforço é, geralmente, pouco estimulante. Raros são os que vão além de uma atividade antiquária investida na autenticidade de relíquias ou de uma mobilização de historias fantásticas e personagens marcantes servindo a uma indústria do entretenimento. Em outras palavras, poucos são os trabalhos que se esforçam por discutir ou esclarecer pontos fundamentais sobre a guerra.

É precisamente em torno desse amontoado de produções que se destaca o nome do jornalista e historiador britânico Max Hastings. Filho de jornalistas correspondentes de guerra, a produção de Hastings é bibliografia obrigatória para se entender conflitos militares que estouraram no mundo, no século XX. Entre eles estão as guerras da Coréia, Malvinas e, sobretudo, Segunda Guerra Mundial. Em 2012, o escritor ganhou o prêmio Priztker Military Literature, de U$ 100 mil, pelo conjunto da obra.

Seu livro mais recente, Inferno, publicado no Brasil pela Intrínseca, procura “iluminar o que o conflito significou para uma multidão de pessoas comuns”.  Esqueçam-se das grandes façanhas, heróis, chefes militares e sua astúcia ou de táticas mirabolantes. Depois de uma série de livros lidando com pormenores de estratégias militares e do grande jogo político do conflito, Hastings se volta para as experiências humanas daquela imensa multidão anônima que testemunhou contra a própria vontade a experiência limite de uma grande carnificina. Nas palavras do autor: “homens e mulheres de dezenas de países que lutaram em busca de palavras para descrever o que lhes aconteceu”.

Para isso, o livro se volta a uma pesquisa inédita unindo com maestria a movimentação politico-militar e as experiências cotidianas daqueles que procuravam dar algum sentido para o que era quase sempre inexplicável. Com o apoio de uma rede de tradutores, Hastings teve acesso a relatos e testemunhos inéditos de diferentes de russos a holandeses, oferecendo uma perspectiva diferente das usuais.

O autor expõe a guerra em diferentes camadas e regiões, percebendo o conflito como um fenômeno que fez vítimas que não estavam diretamente envolvidas no campo de batalha, causando danos de formas que são raramente conhecidas. O livro mostra, por exemplo, que cerca de 17 mil soldados norte-americanos tiveram algum membro amputado por conta de feridas em combate, diante de 100 mil que perderam um membro por acidentes industriais resultantes do esforço de guerra.

A maioria da obra de Hastings permanece ainda sem tradução para o português, mas, por enquanto, o público brasileiro pode desfrutar deste, que é um trabalho de incrível lucidez pelas mãos de um dos maiores especialistas sobre o tema. Ao se perguntar sobre o que as simples pessoas fizeram durante a guerra ou o que a guerra fez a elas, Hastings escreveu aquele que é um dos melhores panoramas já escritos sobre a Segunda Guerra Mundial.

Por Bruno Garcia, Revista de História da BN.

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