Hitler – Retrato de uma tirania

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Apenas duas pessoas na história da humanidade foram mais biografadas do que o ditador alemão Adolf Hitler: Jesus Cristo e Napoleão Bonaparte. Isso, em si, resume o quão comum é encontrar biografias de Hitler mundo afora. Salvo no Brasil. De certa forma, ainda existe preconceito para com historiadores e jornalistas brasileiros que escrevem sobre a Segunda Guerra Mundial, como se o tema fosse um privilégio concedido apenas a escritores ingleses e norte-americanos.

Hitler – Retrato de uma tirania (Geração Editorial, 2013) é uma exceção. Além do autor Fernando Jorge ser brasileiro, a primeira edição do livro foi publicada em 1963 – ainda que sob o pseudônimo de “Herman Zumerman” – quando, menos de 20 anos depois do fim cataclísmico da Segunda Guerra, o mundo ainda aturdido pelos horrores do conflito tentava entender o que havia sido o fenômeno Hitler na Alemanha. A primeira grande biografia de Hitler, por exemplo, do jornalista berlinense Joachim Fest, considerada até hoje uma das mais completas, só apareceu no início da década de 1970.

Para além da narrativa cronológica da vida de Hitler, que o autor brasileiro chama durante o livro simplesmente de “Adolf” – o que pontua o lado humano-psicológico antes do histórico-político -, há uma tentativa, ainda que superficial, de compreender a personalidade do Führer. O quanto os traumas de infância e adolescência influenciaram na formação da personalidade perturbada do futuro líder de uma das nações mais poderosas do mundo? O quanto as surras do pai alcoólatra e rígido disciplinador tiveram de culpa e atingiram duramente o rapaz de saúde frágil, que era fruto de um casamento entre consanguíneos? Como uma vida de pobreza e frustrações forjaram o caráter de um desocupado e orgulhoso filho do nacionalismo alemão? Os problemas de relacionamentos amorosos e sexuais do jovem austríaco explicam de algum modo a personalidade megalomaníaca do Führer alemão?

Em parte sim. Os problemas psicológicos, aliados a uma conjunção de fatores políticos, econômicos e históricos, surgidos em um momento infeliz na história da Alemanha, permitiram não apenas o aparecimento de Hitler como sua elevação ao altar das divindades do povo alemão. Para Fernando Jorge este pode ser o resumo do perfil de Hitler: “Nascera com vocação para mandar. Dando ordens sumárias, que deviam ser cumpridas ao pé da letra, vingava-se de todas as humilhações sofridas, da miséria curtida nas ruas de Viena, do autoritarismo desumano do falecido progenitor”.

Ainda que conhecido por suas obras e textos polêmicos e de usar, do ponto de vista histórico, estereótipos simplistas de algumas personalidades envolvidas, Fernando Jorge faz, de maneira didática, quase infantil, uma conexão entre o passado mendicante e os recalques de “Adolf” – e do meio que o criou – até a ascensão do Hitler político, que destruiu um a um todos os seus inimigos, até  a consumação do Führer inconteste do povo alemão e conquistador militar da Europa.

Hitler – Retrato de uma tirania merece ser lido, se não como uma fonte detalhada da vida de Hitler, como um raro exemplo de escritor brasileiro que ousou escrever sobre um tabu.

Por Rodrigo Trespach

Para comprar o livro ou saber mais sobre a obra, acesse o site da Geração Editorial. Para saber mais sobre a biografia e as obras do autor, consulte o site de Fernando Jorge.

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